POR VICK BACON: Sem qualificação, parte dos brasileiros não consegue ocupar vagas básicas

Em Porto Velho que está entre as cinco capitais com os piores índices de desemprego com 13,7%. Desocupação entre os que têm até 29 anos foi quase o dobro da média geral da população. Falta de qualidade da educação é um dos obstáculos que deixa os jovens fora do mercado

POR VICK BACON: Sem qualificação, parte dos brasileiros não consegue ocupar vagas básicas

Foto: Divulgação

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No início deste ano, a Atento, empresa de telemarketing e a maior empregadora privada do País, ofereceu 1,2 mil vagas no Mutirão do Emprego, promovido pelo Sindicato dos Comerciários de São Paulo. Com 600 interessados, só conseguiu contratar 7 operadores de telemarketing – menos de 1% do que precisava. No mesmo evento, o Grupo Pão de Açúcar abriu 2 mil postos, aprovou 700 candidatos, mas, até agora, apenas 32 estão trabalhando, segundo os organizadores do evento.

 

Diante da estagnação da economia, do desemprego em alta e do avanço da tecnologia, os casos acima são um retrato nítido da dificuldade que o trabalhador sem qualificação tem enfrentado para voltar ao mercado. Nos últimos dois anos, 60% das 11,8 mil vagas ofertadas nos mutirões do emprego, que reuniram grandes empresas, não foram preenchidas. Dificuldade de se expressar, de fazer contas, falta de conhecimentos básicos em informática e inglês e poucos anos de estudo são obstáculos às contratações.

 

Aglomerados no Vale do Anhangabaú, candidatos participam do Mutirão de Emprego | Felipe Rau/Estadão

 

De acordo com o presidente do Sindicato e da União Geral do Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, no último mutirão foram ofertadas cerca de 2 mil vagas para caixa de supermercado, com salário perto de R$ 1.100. Metade delas ficou em aberto por falta de qualificação dos candidatos. Operador de caixa e de telemarketing são geralmente a porta de entrada para o mercado de trabalho, especialmente para os mais jovens.

 

Segundo empresas de recrutamento, a recolocação tende a ser mais difícil para quem tem até o ensino fundamental, menos de 20 e mais de 45 anos e está há mais de um ano fora do mercado. Entre os 13,4 milhões de desempregados no primeiro trimestre deste ano, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 635 mil são considerados de difícil recolocação pelos recrutadores, nas contas do economista Cosmo Donato, da LCA. É o dobro do registrado no mesmo período de 2014, antes da recessão.

 

O abismo entre a qualidade da mão de obra desempregada e o que as empresas procuram não deve se resolver nem mesmo com a retomada da economia, prevê o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes. Ele estima que dois, em cada dez desocupados, devem ficar fora do mercado na próxima década por falta de qualificação. Isso significa que a massa de trabalhadores sem chances de se recolocar pode saltar dos atuais 635 mil para 1,4 milhão, em dez anos.

 

De acordo com as estimativas de Bentes, se a economia crescer em média 2,5% ao ano até 2030, a procura por trabalhadores não deve ser suficiente para recuperar os 8,8 milhões de empregos destruídos pela maior recessão da história. As projeções foram feitas, a pedido do Estado, levando em conta dados da Pnad e projeções do Boletim Focus do Banco Central.

 

“Não vai ter (crescimento do) PIB suficiente para incorporar essa massa de desempregados com baixa qualificação”, afirma. Em 2014, antes da recessão, o mercado de trabalho estava tão aquecido que até profissionais com pouca qualificação eram facilmente absorvidos. Na crise, o quadro se inverteu.

 

Para Hélio Zylberstajn, professor sênior da FEA/USP e coordenador do projeto Salariômetro da Fipe, os trabalhadores sem preparo podem ter destino diferente, dependendo de qual área leve adiante a retomada da economia. “Essa proporção de dois em cada dez poderá ser menor se o modelo for puxado pelo investimento em infraestrutura, que incorpora trabalhadores na construção civil de baixa qualificação”, diz.

 

Treinamento

 

A conhecida baixa produtividade do trabalhador brasileiro só vai ser resolvida, segundo Bentes, da CNC, com treinamento, o que depende de investimentos. No setor público, diante da pressão por cortes e contingenciamento de gastos, será difícil que o orçamento cresça nos próximos anos na velocidade necessária para suprir essa necessidade de qualificação dos trabalhadores. Por iniciativa própria, só uma parcela muito pequena deles consegue bancar os estudos. “A maioria vende o almoço para comprar o jantar”, afirma.

 

Segundo o economista, a iniciativa privada é a ponte principal para melhorar a produtividade. Ele adverte, no entanto, que existe um risco de o trabalhador desqualificado ser substituído por uma máquina. “Quando a economia voltar a crescer e o investimento retornar, o empresário vai se perguntar se faz sentido contratar, por exemplo, um caixa de supermercado com baixa produtividade ou se é mais barato comprar uma caixa registradora automática que faça esse serviço a um custo menor e sem encargos trabalhistas”, afirma.

 

A situação em Porto Velho é deprimente para os jovens.

 

Segundo dados obtidos no IBGE, 44 mil rondonienses entre 18 e 24 anos estão a procura de emprego. Proporcionalmente somos a capital do país que mais sofre com esse dado alarmante.

 

Na Capital do contra cheque, quem não consegue entrar para o serviço público, tem muito pouca opção. O número de indústrias é pífio demais e mesmo assim, as que existem não dão espaço para principiantes. O comércio ainda é uma porta e o setor de serviços também. Há ainda a esperança no agronegócio, mas daí são mais produções familiares, restritas a pequenos grupos. Mas o que se vê é um grande número de jovens distribuindo currículos, pedindo apoio, batendo nas portas, gritando por uma chance. Esses adolescentes, um pouco mais de homens que mulheres, representam apenas 7,6 por cento da população, mas é entre eles que temos o maior número de desempregados.

 

Numa segunda faixa onde o desemprego também é grande, entre os porto velhenses (na faixa etária dos  entre 20 e 24 anos), o percentual de gente sem acesso ao trabalho também é enorme. Daí não são mais jovens e adolescentes, mas sim adultos, muitos pais e mães de famílias, sem qualquer perspectiva de conseguirem trabalhar. Nesse segundo grupo, que representa uma faixa de 13,7 por cento de toda a população, está também uma deficiência gravíssima da maior cidade do Estado: não há políticas de desenvolvimento, que possam abrigar toda essa gente. E entre esse público, o percentual de desempregados é, também, assustador.

 

Enquanto o país teve um grande crescimento no  numero de empregos em fevereiro – foram 173 mil empregos formais, no melhor resultado para fevereiro em cinco anos – por aqui os números ainda são muito negativos. Sem uma mudança radical na política econômica; sem uma reforma tributária que transfira para o trabalho os recursos bilionários usados para sustentar a obesidade mórbida e criminosa da União e dos Estados, que não cortam na carne, como deveriam; sem incentivos fiscais e apoio à industrialização, continuaremos nesse marasmo por longos anos. Para melhorarmos a performance do emprego, dependemos muito, é claro, da política econômica nacional.

 

Mas tem que haver, aqui mesmo, alguns caminhos para que ao menos amenize essa crise desesperadora, de tanta gente querendo trabalhar e não ter sequer uma oportunidade. Laerte Gomes tem batido nessa tecla, Que se unam a ele muitas outras vozes, para que salvemos uma geração inteira de se tornar alijada da sociedade e improdutiva economicamente!

 

Taxa de desocupação em 2018.

 

 

Fontes

 

O ESTADÃO ON LINE de 21 de maio de 2019.

O Globo de 13 de maio de 2019.

IBGE (acesso em 06 de junho de 2019).

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