Confira o artigo, por Pedro Manhães
Foto: pedro manhães
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Olhar daqui pra lá parece bem normal. Olhar de lá pra cá, ajusta o foco e clareia a visão.
A convite do jornalista Paulo Andreoli, fui conhecer de perto, neste final de semana, um pouco da cultura, das ideias e dos ideais do povo Kaxarari. Eram os festejos comemorativos do Dia do Índio, uma data criada para lembrar uma história que possui dois lados bem distintos: o de lá e o de cá.
Saímos de Porto Velho rumo à Extrema, distrito da chamada Ponta do Abunã, o último pedaço de Rondônia, ainda município de Porto Velho, antes do estado do Acre aparecer no horizonte.
Um trajeto inicial de 300 km pela estrada que corta o penúltimo pedaço do Brasil rumo ao centro-oeste da América do Sul, com seus lagos, suas represas e seus rios cortando a pista em diversos pontos do caminho.
No futuro, quando for duplicada e mais segura, certamente vai se tornar uma rota ainda mais privilegiada para o turismo e um novo e eficiente corredor para o escoamento da produção brasileira pelo oceano que fica do outro lado.
Do ponto de vista logístico é o caminho dos sonhos, rumo aos portos da costa oeste sul-americana: aqueles com vista para o Pacífico. A BR 364, que corta o Sul da Amazônia, pode contribuir para consolidar a integração do Brasil no continente.
E lá, no meio do caminho, fica Extrema. E a uns 40 km de Extrema vivem os Kaxarari. Um povo que que aproveita o Dia do Índio para mostrar aos seus - e aos que se aproximam - aquilo que é a verdade da história para quem viveu sempre do lado de lá: sendo atacado e tendo que defender com a força que tivesse, sua família, suas tradições, suas terras e o seu belo e agradável jeito de viver.
Um povo bonito, gentil, acolhedor e guerreiro, remoendo suas cicatrizes, revivendo suas lutas, chorando suas mágoas e marcando com sangue e com valentia suas vitórias na dura guerra pela sobrevivência.
Eles já foram milhares. Hoje restam apenas algumas centenas de homens, mulheres, jovens e crianças tentando garantir a preservação de uma cultura que nasceu, cresceu e se estabeleceu no meio da selva amazônica.
Os Kaxarari deixam claro que ainda sentem desconfiança em relação aos chamados homens brancos, mesmo com toda a integração que vem sendo construída ao longo dos anos. Não deve ser fácil mesmo. São 519 anos de história. Do lado de cá e do lado de lá.
Pedro Manhães, 51, é jornalista por vocação e homem de comunicação por circunstâncias da vida. Foi editor de jornais e revistas no interior paulista, hoje mora em Porto Velho (RO).
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