Belizário Costa um Soldado da Borracha que resiste
Foto: Divulgação
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Passados quase 17 meses da promulgação do Projeto de Emenda Constitucional 78/2014, projeto mais conhecido como PEC dos soldados da borracha, o SINDSBOR traz entrevista realizada com um soldado da borracha no município de Pimenta Bueno/RO.
Em visita à cidade no dia 30 de outubro último, o Sindicato dos Soldados da Borracha de Rondônia, foi ao encontro do soldado da borracha Belizário Costa, que vitimado por um derrame cerebral seguido de uma parada cardíaca concedeu uma entrevista à entidade, momento onde desabafou falando de sua desilusão com o governo brasileiro, denunciando descaso a que os ex-seringueiros que lutaram na Batalha da Borracha na década de 40, foram relegados.
Com a condição física e aparência bastante debilitada, diferentemente de maio de 2014, ocasião em que discursou na tribuna do Senado Federal em Brasília, desbancando senadores da base aliada, e protesto ao governo Dilma por ter enterrado o sonho da equiparação tão sonhada pelos soldados da borracha, assim o ex-seringueiro recebeu em sua casa o SINDSBOR.
Ajudado por seu neto, Belizário Costa senta sobre a cama, seu quadro de saúde agora bem delicado o torna mais dependente, uma bengala estendida ao lado de seu leito é seu novo acessório que o ajuda a caminhar tremulamente a passos lentos pela casa onde vive, sempre que reúne forças para fazer coisas mínimas.
Perguntado sobre sua atual situação, esse soldado da borracha inicia sua entrevista:
Belizário: Minha situação é esta que o sindicato está vendo! Depois de mais de 67 anos de espera, a única coisa que recebi do governo foi R$ 25.000,00 no ano passado. Esse dinheiro que o governo deu e diz que é indenização é a quantia que dá, para os deputados em Brasília gastarem tomando café. O governo só deu essa gorjeta para nós depois de ser muito pressionado pelo sindicato dos soldados da borracha de Porto Velho e do Acre. Mas era para a gente ganhar hoje setes salários mínimos se a PEC da equiparação fosse aprovada.
O governo diz que nos reconheceu, mais isso não é verdade, ele nos desconsiderou, do que recebi não tenho mais um vintém, só a injeção e os remédios para tratar minha doença, de cara me custaram R$ 8.000. E hoje me encontro como você está vendo, doente nessa situação. O governo não nos valorizou, esperava que esse governo fosse fazer justiça mas me enganei.
SINDSBOR: Depois dessa atitude do governo, o senhor tem esperanças em receber mais algum direito?
Belizário: Tenho esperança primeiro em Deus, depois no sindicato que ele possa lutar por nossa verdadeira indenização em Brasília. Pois, não me conformo com o que foi nos dados, olha tive na mata por mais de 04 anos, ali comi o que nunca pensei em comer na vida.
Naquela época, eu dormia com o rifle em cima do peito, com medo dos índios me atacarem e me comerem vivo. O que nós seringueiros sofremos dentro da mata naquele tempo, não desejo para meu pior inimigo.
SINDSBOR: Como o senhor veio parar no seringal?
Belizário: Me lembro como se fosse hoje, estava na cidade de Manaus, apareceu por lá um tenente do Getúlio Vargas recrutando gente para a borracha. Eu trabalhava carregando pedra e ganhava 3 mil réis por dia, o dinheiro que ganhava só dava para comprar pão e mel de garapa, essa era minha alimentação.
O tenente se aproximou de mim e perguntou como eu me chamava, respondi a ele meu nome, e ele fez outra pergunta me dizendo: Quanto você ganha aqui? Respondi ganho 3 mil réis.
Ele insistentemente perguntou se eu queria ganhar muito, eu disse que queria, era claro! Pois além de eu ganhar pouco meu serviço era carregar pedra, e eu queria sair daquilo.
Então ele abriu um Decreto na minha frente, leu aquele papel que dizia que qualquer rapaz recrutado pelo governo, ou ia para a guerra na Europa, ou ia cortar seringa na Amazônia. E disse mais, disse que se eu aceitasse teria direito a uma casa, comida boa e de graça, remédio e outras coisas mais, eu aceitei a proposta na mesma hora.
SINDSBOR: Isso tudo teve lá no seringal?
Belizário: No seringal não teve nada do que ele falou, no seringal nunca comi feijão, nem a comida boa que aquele tenente tinha falado. Comi foi o pão que o diabo amassou, lá comia jabuti e carne de macaco quando comia, pois também passei muita fome.
Quando cheguei no seringal ganhei dois quilos de sal, duas panelas, um facão, um rifle e um prato velho. No seringal o patrão que vi pela primeira vez me disse: Olha arigó, se você não produzir essa borracha, nunca mais você sai daqui.
Lá eu nunca recebi saldo! Nós seringueiros prosperamos o que a gente sofreu, foi isso que a gente ganhou, foi isso que lucramos. Hoje vivo de aluguel eu não tenho casa, esperei esse tempo todo fazendo planos para comprar uma casa e no final o governo nos deu uma esmola.
Eu fui à Brasília três vezes, não fui roubar não, fui receber o que era nosso, falei que Brasília foi construída com o dinheiro dos soldados da borracha, com o dinheiro que ganhamos da borracha.
No meio da entrevista o soldado da borracha Belizário propôs fazer uma reunião com os soldados da borracha vivos que conhece juntamente com seus familiares, dizendo que após a reunião iria à Brasília juntamente com a direção do sindicato para reivindicar a verdadeira indenização e os direitos de todos.
Tal atitude desse honrado soldado da borracha demonstra que mesmo abalado fisicamente e doente, Belizário em pleno os 96 anos, ainda tem muita força de espírito , vontade de lutar, e fé que um dia possa receber a verdadeira indenização.
No fim dessa pequena entrevista, Belizário Costa contou uma história reveladora:
Belizário: No final da década de 80, o ex-presidente Lula veio a Rondônia, eu vi ele com uma espécie de caderno debaixo do braço, ele e outros andavam atrás de gente e pessoal para formar o partido do PT. Muitos naquele momento que ele era comunista, as pessoas tinham receio, um grupo de homens que eu conhecia queria expulsá-lo dali na força. Mas eu os convenci de que ele, o Lula estava ali buscando outros meios para ajudar, e sem Lula saber ou desconfiar o salvei de ser expulso e agredido naqueles confins da região de Rondônia.
E hoje quando o partido que Lula criou prejudicou a mim aos demais soldados da borracha, lembro que lá no passado o ajudei.
No final da entrevista com olhos esperançosos Belizário se despedi dizendo não ver a hora de sua recuperação para realizar mais um sonho seu, que é viajar à Brasília com o sindicato para cobrar novamente seus direitos do governo federal.
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