ARTIGO - Enfrentem o crack ou ele acaba com todos – Por Mario Quevedo

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Foto: Divulgação

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Três coisas me levaram a escrever este artigo. Primeiro, o choque causado pela reportagem sobre o tema exibida ontem no programa Domingo Espetacular, da Rede Record. Depois, o fato de acontecer em Vilhena nesta semana um julgamento de homicídio relacionado diretamente com o uso de drogas. E, por último, a manchete principal do jornal Estadão do Norte, datada de ontem, mostrando a crackolândia de Porto Velho.
Não dá mais para ficar calado, e na relação custo/benefício, creio que posso sair ganhando me expondo mais um vez. Isso porque não é segredo para ninguém a minha condição de dependente químico em recuperação, situação esta que jamais escondi. Não importa o tempo que estou limpo nem as circunstâncias que me levam a conquistar vitórias diárias contra o uso de drogas há algum tempo. O que pretendo colocar aqui é a minha experiência e um apelo.
Antes de prosseguir com a leitura, eu sugiro que assistam a reportagem da Record, a qual estou disponibilizando neste link: http://rederecord.r7.com/2012/04/15/internautas-parabenizam-o-domingo-espetacular-por-reportagem-sobre-o-mundo-do-crack/ .
Não quero me ater no caso específico do médico que perdeu a vida cuidando de dependentes da crackolândia de São Paulo, assunto que "amarra" a reportagem. Quero que vocês prestem atenção à degradação que esta droga, a mais amaldiçoada de todas, provoca a quem se envolve com ela.
É brutal e chocante, não? Pois é, eu sabia que seria esta a sua impressão. Agora, vou lhes contar uma novidade: essa realidade existe aqui em nossa cidade, bem diante de nossos olhos. O problema é que a maioria das pessoas finge que não vê.
Não temos uma cackolândia nos moldes paulistanos, ou mesmo como na capital, como bem mostrou o Estadão. Mas temos por aqui cortiços iguais aos que vocês viram na televisão. Há em nossa cidade locais onde dependentes químicos se reúnem para consumir drogas por tempo indeterminado. Eu conheço pelo menos três deles. Só não sei se ainda estão ativos, pois estou fora desse mundo há certo tempo. Mas, se não estiverem mais, há outros com certeza.
Pois bem, nesses lugares encontrei gente de todo tipo. Tinha vagabundo e trabalhador; preto e branco; pobre e filhinho de papai. Homens e mulheres... Jovens, menores de idade e gente mais velha que eu. Vilhenenses e povo de outros lugares. Ou seja, o crack se "democratizou" e rompeu todas as barreiras sociais. Hoje ninguém mais está fora do seu alcance.
Quem viu a reportagem também deve ter compreendido que o médico morreu em função de doença pulmonar que adquiriu graças ao convívio com os viciados e seu mundo bizarro. O uso desta droga acarreta em doenças infecto-contagiosas graves, caso da tuberculose. Você acha que isso não pode lhe atingir apenas porque não é usuário? Pois está enganado. Vou colocar a seguinte situação hipotética, mas perfeitamente possível de acontecer a qualquer momento.
Digamos que um viciado é preso cometendo um furto ou roubo, coisa que ocorre rotineiramente, pois a maioria deles sustenta o vício desta forma. O camarada é jogado no superpopuloso sistema carcerário da cidade, e ninguém sabe que ele está com tuberculose. Ele pode ser o vetor de uma epidemia que vai começar contaminando os colegas de cela e depois pode escapar para fora dos muros por duas vias: através de visitantes ou quando os doentes tiverem que ser atendidos pelo sistema público de saúde. Não é uma coisa tão impossível assim de acontecer. Não é mesmo!
Soma-se a isso todas as outras facetas do problema, que abrangem a Segurança Pública, a Ação Social, a desagregação familiar e a degradação da sociedade. É uma questão que afeta diretamente a todos, e não apenas os doentes, suas famílias ou eventuais vítimas. Todo mundo é atingido. E, o pior, a disseminação do uso do crack já é considerada pelas autoridades sanitárias do mundo inteiro como epidemia. Ou seja, vai piorar muito antes de melhorar.
O governo federal lançou este ano um programa de enfrentamento ao crack, assim como o Estado anunciou no final de semana a criação de um organismo voltado a trazer paz social, com um departamento específico para a questão das drogas. Precisamos que nossas autoridades e representantes da sociedade; do vereador ao deputado, do prefeito a juiz, do professor ao padre ou pastor e do delegado ao presidente de associação; se interessem pela questão e tentem trazer para nós políticas públicas que efetivamente possam dar um Norte à busca pelo controle da situação.
Não adianta colocar os doentes em entidades religiosas, com terapias amadoras e sem apoio profissional, e ficar esperando por um milagre. Também de nada serve torcer para que todos passem pela situação que eu passei, quase morrendo de enfarte e "caindo na real", para que este problema se resolva. Hoje, a crackolândia está lá fora ou em pequenos focos na periferia da cidade. Onde ela poderá estar amanhã?
Mario Quevedo
PS - Lá em cima eu falei sobre relação custo/benefício para mim por ter escrito as mal-traçadas acima. E já me perguntaram o que eu ganho com mais esta exposição negativa.
Duas coisas: a possibilidade de que minha experiência neste inferno possa servir como um alerta aos cidadãos de minha cidade para que não passem por isso; e a perspectiva de ter um ponto de apoio se eu mesmo ficar em situação de risco no futuro, caso sejam implantadas medidas decentes e eficazes para combater o flagelo.
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