ARTIGO: O Brasil do Big Brother ainda é preconceituoso– Alan Alex
Foto: Divulgação
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A Rede Globo, desde há muito, vem tentando incutir na cabeça dos brasileiros a normalidade da diversidade sexual. É claro que cada um faz o que quer de sua vida, mas a forma como a emissora impõe isso, é estereotipada e termina caindo no rídiculo. A única vez que me recordo de personagens gays “sérios” na programação da emissora, foi um casal de lésbicas na novela Vale Tudo, de 1988. Mesmo assim, o casal morreu na metade da novela, “a população não gostava”, disse o autor do folhetim Gilberto Braga, na época. De lá para cá, todos os personagens gays caem no estereótipo de alegre e bobalhão, que faz todo mundo rir. Esse tipo de atitude por parte da emissora, termina atrapalhando mais a vida dos gays e lésbicas do que ajudando, creio eu.
Mais recentemente, acompanhando a final da décima edição do programa Big Brother, da Rede Globo, não pude deixar de perceber o reflexo dessa atitude global. Apesar dos esforços de Pedro Bial em promover o discurso da diversidade, percebemos que isso ainda é um assunto complicado para a sociedade brasileira. Deve ser muito difícil para um pai ou uma mãe descobrir por terceiros ou pelo próprio filho, que a opção sexual dele é “diversa”, mas isso é um problema familiar, não nos cabe opinar.
Voltando ao Big Brother. Se analisarmos o perfil dos participantes que estão na final temos a patricinha, o bom menino e o brucutu conservador. Os “coloridos” como eram chamados os gays, foram sendo eliminados um a um, assim como a “sincera”, que foi vitima da patricinha, apesar da votação apertada. Coloquei sincera entre aspas porque a sociedade fala muito em sinceridade e humildade, e prega isso como valores básicos para uma pessoa ser “do bem”. Mas a verdade dói e a humildade é confundida com subserviência. Uma pesquisa comprovou que a maioria das pessoas prefere ouvir uma “meia-verdade ou verdade nenhuma” a sofrer com a certeza. Isso é inerente ao ser humano. Por isso, quando nos deparamos com alguém muito sincero, nos sentimos incomodados, às vezes, chegamos a pedir desculpas pelas “verdades” que essa pessoa diz. Daí a eliminação da “sincera” Lia.
Os que ficaram, representam claramente a sociedade brasileira. São filhos que as donas de casa gostariam de ter, ou gostariam que seus filhos (as) se relacionassem. Apesar de engraçados, personagens como Serginho e Dicésar, são ótimos coadjuvantes no contexto, mas para protagonistas não servem. Assim como “não servem” para serem amigos dos filhos das donas de casa,
Alguns vão puxar pela memória e falar, “mas o Jean Willis que era gay ganhou uma edição”. Correto, mas ele fugia do estereótipo. Era um gay “comportado”, sem fricotes, “aceitável” nos círculos sociais, daí sua vitória.
Este artigo não tem objetivo de sair em defesa deste ou daquele grupo, e sim, chamar a atenção para um detalhe que passa desapercebido para a maioria da população, que é o preconceito. Falar em diversidade, seja ela sexual, de credo ou mesmo étnica é sempre complicado. Quem tem opinião formada, seja ela por meios próprios ou por ouvir falar, dificilmente se convence do contrário. Pude notar, por exemplo, que uma reportagem da revista Época deste fim de semana, que abordava o crescimento de uma igreja evangélica, virou alvo de críticas por parte de evangélicos e não evangélicos. Os favoráveis diziam que a revista era tendenciosa, que queria denegrir a imagem dos cristãos, etc. Os contrários, colocavam todos os evangélicos no mesmo rol e os acusavam de serem radicais, de serem manipulados e de não enxergarem a verdade, como se “verdade” fosse uma coisa palpável.
Verdades e certezas são subjetivas, e pertencem a todos, vai depender do ponto de vista.
Percebo também nos comentários de alguns leitores do Rondoniaovivo, preconceitos regionais. O professor Nazareno, por exemplo, que é nordestino, sempre é acusado de ser “passa fome”, “comedor de charque” e outras asneiras, que nós excluímos. Vira e mexe, alguém me envia um e-mail mal-criado, dizendo que “você não é daqui”, como se isso desmerecesse o que escrevo. Para quem não sabe, eu sou daqui sim, com muito orgulho. Nasci na extinta maternidade Darcy Vargas. Cresci em Porto Velho. E detesto estereótipos ou classificações absurdas. O fato de Nazareno não ser natural de Porto Velho, assim como a jornalista Eliane Brumm, da revista Época, nada desabona seus pontos de vista ou opiniões. Isso é diversidade de ideias.
Toda a classificação é perigosa e quando a sociedade passa a adotar esse modelo, isso dificulta a vida em sociedade.
Países que seguiram esse caminho, vivem em conflito e não conseguem atingir o desenvolvimento social tão necessário a vida de suas populações. Por isso, precisamos começar a praticar, no cotidiano, a aceitação das diversidades, sejam elas sexuais, étnicas, religiosas, de idéias ou sociais. É um exercício difícil, mas necessário.
alan.alex@gmail.com
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