A Secretária Municipal de Transportes e Trânsito (SEMTRAN), Fernanda Moreira, esteve ontém, à noite, no plenário da Câmara Municipal de Porto Velho. Foi tentar convencer vereadores de que a culpa pelo caos em que se transformou o trânsito da capital não é dela, tampouco do prefeito Roberto Sobrinho, mas, sim, das usinas.
Agora, tudo de ruim que acontece na cidade, é culpa das usinas: a prostituição infantil, a violência, a miséria, os esgotos a céu aberto, as alagações, o lixo espalhado pelas esquinas e calçadas, a rua esburacada, a falta de médicos e medicamentos nos postos de saúde da rede municipal, a reforma da escola que emperrou, enfim, tudo. Só falta o prefeito dizer que a proposta de reformulação do plano de carreira, cargos e salários de servidores municipais, apresentada pelo SINDEPROF, não será aprovada, antes do final do ano, por causa das usinas.
Se o petismo queria encontrar um bode expiatório para justificar a incompetência da administração Sobrinho, parece que o encontrou. E os aliados do prefeito se têm a pegado a isso como tábua de salvação, para tentar convencer os incautos. E o pior, contudo, é que tem gente que acredita nessa cantilena fastigiosa. É a velha máxima de Joseph Goebbels, segundo o qual uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.
Em dado momento da sabatina, Fernanda disse que o transporte coletivo não está bom. Pelo contrário, secretária, vai de mal a pior. Ela afirmou, também, que a “SEMTRAN tem uma dívida com a população”. Não é verdade. Não foi a SEMTRAN que prometeu, durante a campanha eleitoral, sepultar o monopólio do transporte coletivo, acabar com o ônibus tele sena, nem construir novos abrigos, secretária, mas, sim, o prefeito Roberto Sobrinho. A SEMTRAN é apenas um entre tantos órgãos da prefeitura que não servem absolutamente para nada, senão para acomodar cabos eleitorais e bajuladores. Há exceções. Pouquíssimas, mas há.
Em sua toada monótona, Fernanda disse que tem sido “ótimo o desafio de está à frente da SEMTRAN”. Conversa afiada. Nesse caso, não são os desafios que fascinam, mas o salário e as mordomias oferecidas pelo cargo. Entre um espasmo e outro, afirmou que o seu chefe é um “administrador de visão”. Só se for estrábica, porque não consegue resolver problemas triviais, como, por exemplo, a abertura de concorrência pública para o sistema de transporte coletivo.
A contratação dos agentes de trânsito, cujo processo se arrasta pelas gavetas da burocracia municipal, desde janeiro, vai continuar na geladeira. E só Deus sabe quando de lá sairá. Não há previsão, respondeu ela, quando perguntada pelo vereador Pastor Delso.
Ao tentar responder o vereador Cláudio da Padaria, porque as empresas não cumprem a lei municipal que limita o tempo de esperar na parada e diz que nenhuma linha pode ter menos de dois ônibus, Fernanda Moreira saiu-se com a esfarrapada desculpa de que isso implicaria em custo para o consórcio, evidenciando, mais uma vez, de que lado está na briga entre o mar e o rochedo.
Convenhamos, secretária, assim já é demais. Ou será que a senhora não tem conhecimento de que a permissão do serviço de transporte coletivo está condicionada, dentre outras exigências, a regularidade do horário, abrangência de linhas, conforto dos veículos, capacidade de lotação e urbanidade no trato com os usuários? Se não a tem, pois, então, sugiro que leia o art. 7º, § 3º, Incisos I, II e III, da Lei Orgânica do Município de Porto Velho, para não sair por ai dizendo bobagens. Haja paciência!