Um suposto ataque de pistoleiros contra acampados do projeto Boa Esperança do Jequitiba, acampamento de Sem Terras a cerca de 100km de Porto Velho e que teria sido alvo de agressões durante três noites desta semana, pode ser um caso isolado e não uma ação articulada por fazendeiros, como acusam os moradores do local em comunicação a policia. A reportagem do Rondoniaovivo esteve no local e ouviu os moradores e o suposto agressor.
O acampamento Jequitibá é mantido pelo MCC – Movimento Camponês Corumbiara e fica nas proximidades da Usina Hidrelétrica de Samuel, a cerca de 25 km de Vila Samuel, pequeno distrito do município de Candeias do Jamari. Foi invadido há cerca de três anos e atualmente conta com apenas 55 pessoas efetivamente morando na terra. A pequena quantidade de moradores contrasta com uma grande quantidade de barracos de palha construídos no local. Na estrada que dá acesso ao Jequitiba, a reportagem cruzou com várias carretas de toras, que seriam fruto de um plano de manejo existente na região.
No acampamento, o coordenador estadual do MCC – Movimento Camponês Corumbiara no Jequitiba, Ronaldo Souza do Nascimento, que se encontra no acampamento a menos de seis meses, mostrou a casa de madeira e três barracos que teriam sido queimados por um pistoleiro de apelido Tiãozão da Vila. Segundo relatos de testemunhas, tudo começou no sábado por volta de 12hrs, com a presença do fazendeiro Magno Soares e mais três homens, onde teriam dito que iam tomar de volta uma casa de madeira que fica na beira da estrada, próxima de uma ponte, já no fim do acampamento. De acordo com os moradores, esta casa na época da invasão pertencia ao fazendeiro. No ato, os homens foram impedidos por parte dos acampados, onde Tiãozão da Vila teria dito que voltaria na quarta-feira (6), e “mataria os adultos na bala e as crianças na faca para não gastar munição”, segundo denúncia registrada na Procuradoria da República de Rondônia.
Na noite de terça-feira (5), novamente o acampamento foi atacado, desta vez, com os supostos pistoleiros queimando os barracos e atirando a esmo. No local, a reportagem detectou que as casa queimadas não possuíam moradores, nem móveis. O fogo também parece ter sido do tipo “controlado”, já que o madeiramento do telhado está intacto. Algumas paredes de palha, assim como a vegetação rasteira ao local também não foram atingidas pelo fogo, levando a crer que o suposto incêndio teve um monitoramento, ou seja, foi acompanhado.
As famílias em entrevista ao Rondoniaovivo disseram que a culpa é do Incra, que não faz a reforma agrária como manda a lei.
ANIMOSIDADE
A existência do acampamento de Sem Terras é motivo de animosidade entre os agricultores da região, que já tiveram várias situações de conflito com os acampados. Na mais grave, o superintendente do Ibama em Rondônia, Osvaldo Pitaluga, ficou refém de moradores da Vila Samuel quando levava para o Jequitibá, duas serrarias para os membros do MCC iniciarem um plano de manejo de extração florestal.
Na pequena vila que vive de agricultura de subsistência e produção de leite, fica claro que os Sem Terras não são bem vistos, nominados num tom de ironia e preconceito de “comedores de cesta básica do Incra” pelos moradores.
Num ponto de abastecimento de Vila Samuel, a reportagem encontrou com o acusado Tião da Vila, que disse que tudo é invenção dos Sem Terras. Tião afirmou que um caminhão teria passado na estrada e os acampados teriam disparados fogos de artifício com medo. Os próprios fogos, segundo Tião teria provocado o incêndio nos barracos.