Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – MODA ARBÓREA Ensinam os mais recentes postulados da militância ambiental que há duas formas de amenizar a catástrofe do aquecimento global. A principal seria reduzir as emissões do dióxido de carbono (CO2) modificando hábitos - a velha história de deixar o automóvel na garagem, economizar eletricidade, produzir menos lixo e por aí vai. A outra, de tanto que vem ganhando adeptos, está na moda e tende a virar mania, alcançando desde empresas de tudo quanto é natureza e tamanho até cidadãos comuns. É a que manda compensar a inevitável emissão de CO2 pelo plantio de árvores. A lógica é a seguinte: por meio de uma soma de gastos, basicamente com eletricidade, gás e combustíveis de toda ordem, é possível calcular quanto uma pessoa lança de CO2 na atmosfera. A fórmula vale para empresas, entidades e órgãos governamentais. Caso o considerado esteja interessado em saber da parte que lhe toca na destruição do planeta, é só acessar um desses sites a serviço da causa ambiental que tabela é o que não vai faltar. O da “Fundação SOS Mata Atlântica” oferece uma planilha que é uma beleza: é só preencher o local indicado com a quantidade de quilômetros que o distinto percorre de carro por dia, por exemplo, que aparece a quantidade de CO2 com que o ar foi empestado. O certo é que, para neutralizar os efeitos de cada tonelada de CO2, é necessário plantar entre cinco e sete árvores. Em São Paulo, a onda virou moda - literalmente. A 22ª edição da feira “São Paulo Fashion Week”, realizada em fevereiro, será, de acordo com esses critérios, totalmente 'neutralizada' com o plantio de 4.290 árvores, segundo anunciaram os organizadores do evento. Como em toda onda, sempre aparecem surfistas buscando faturar um bom troco com a nova moda. Assim, o cálculo e o plantio vêm sendo feitos por empresas e ONGs que proliferam país afora. Por enquanto, as compensações são de caráter voluntário. Mas já há quem reivindique políticas públicas municipais e estaduais que apontem nessa direção. Pois bem. 2 – ANGU DE CAROÇO Estava tudo indo muito bem, dentro dos conformes, por assim dizer, com cada vez mais gente - empresas, agências governamentais e cidadãos - tentando aplacar suas consciências calculando o CO2 pelo o qual é responsável para saber quantas árvores terá que plantar, até o jornal francês “Le Monde” desta quinta-feira (12) jogar um balde de água fria nos ânimos dos ambientalmente corretos. Antes de prosseguir, convém informar que, se a notícia da publicação francesa estiver correta, os interesses contrariados não são pequenos. O movimento, que tem como principal porta-voz o ex-vice-presidente americano Al Gore, ganhou corpo na Europa - onde o consenso está em reduzir até 2020 as emissões de CO2 a níveis entre 8% e 20% menores do que em 1990. Nos EUA e na China, dois campeões de emissões duros de bater, já se está plantando arvores adoidado. No Brasil, a rigor, não se precisava ter pressa. Na primeira fase do Protocolo de Kyoto, até 2012, determinou-se que apenas os países desenvolvidos teriam de diminuir as emissões do CO2. Mas brasileiro é assim mesmo. Nem bem uma tese acabou de ser formulada no primeiro mundo e por aqui já virou dogma. Tanto assim o é que já estão concluídos todos os cálculos relativos a algumas das principais cidades do país. Para neutralizar os efeitos das 15,7 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) que São Paulo despeja – despeja?, vá lá - na atmosfera por ano, por exemplo, seria necessário plantar 78 milhões 410 mil 295 árvores a cada 365 dias - ou 150 árvores por minuto, segundo tais cálculos. Enfim, existe um consenso que mesmo não sendo uma imposição legal, a redução de CO2 por aqui é uma obrigação moral. Ocorre que, segundo “Le Monde”, num estudo que está para ser publicado pelo "Journal of Geophysical Research" (Jornal da Pesquisa Geofísica), os cientistas Esteban Jobbagy (da Universidade de San Luis, Argentina) e Robert Jackson (da Universidade Duke, Estados Unidos) mostram que nesse angu tem mais caroço do que seria desejável. 3 – BRIGA DE BRANCO De acordo com a publicação francesa, as pesquisas da dupla de cientistas demonstram que essas plantações de árvores por atacado perturbam o ciclo hidrológico e a composição dos solos dos locais onde elas são efetuadas, a ponto de que a emenda pode resultar pior do que o soneto. Os pesquisadores estudaram durante vários anos uma área da Argentina onde o ecossistema tradicional das ervas do pampa fica ao lado de uma cultura de eucaliptos. Eles cavaram nesses dois meios, várias séries de poços em diferentes profundidades, que lhes permitiram colher amostragens do solo e da água de modo a analisá-las, e depois, compará-las. As medições foram efetuadas ao longo de várias temporadas desde 2002. Além do mais, um modelo computadorizado foi utilizado para representar os fluxos hidrológicos entre o solo e os lençóis freáticos. Segundo informa o jornal, o estudo conclui que, quando árvores são plantadas e tratadas da maneira das grandes culturas agrícolas, a plantação bombeia muita água do lençol freático (até a metade das precipitações anuais) e provoca uma salinização do solo (que fica 20 vezes mais salgado do que nas terras adjacentes). Isso, segundo os pesquisadores, confirma uma análise coletiva baseada em várias centenas de observações de plantações de árvores pelo mundo afora, publicada na revista "Science" em dezembro de 2005, por Robert Jackson e seus colegas: ela mostrava que as culturas florestais provocam em média uma diminuição de 52% do escoamento da água nos terrenos considerados. Como explicar o fenômeno? Selecionadas, em geral, por causa do crescimento rápido, as árvores plantadas são muito exigentes em água, que elas vão buscar por meio das suas raízes mais profundamente do que as espécies que elas vêm a substituir. Além disso, a interceptação da água pelas copas das árvores, em contato direto com o ar-livre e a sua evaporação rápida, impede que cerca de 20% das precipitações alcancem o solo. E agora? Sabe-se lá, leitor. Isso é briga de branco.
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