Na semana santa, dois livros dão notícias espantosas sobre um Deus dado como morto - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – DEUSES MORTOS Para quem se acostumou a ler pornografia na face interna das portas de banheiros coletivos, não há como evitar o espanto quando lá nos deparamos com um grafite como o que dizia: “Deus está morto. Assinado: Nietzsche”. E logo abaixo: “Nietzsche está morto. Assinado: Deus”. Ao leitor que achou esquisito extrair o tema para a reflexão da sexta-feira santa de um local tão pouco acadêmico, necessário esclarecer que o banheiro era da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em Porto Alegre, sede do I Fórum Social Mundial em 2001. Conceda-se que não é fácil encontrar divagações escatológicas – nos dois sentidos (popular e filosófico) - nas latrinas do pedaço. Mas, como se diz pelaí, gente coisa é outra fina. Tanto que uma outra inscrição próxima declarava: "Deus está morto. Marx está morto. E eu não estou me sentindo muito bem". Não tinha assinatura. E pensando bem, nem precisava. Quem é, afinal, que pode se sentir inteiramente bem num mundo sem Deus? Um mundo cuja origem é tão estranha que, se fosse inexplicada, seria menos complicado. Um mundo onde não há garantias de recompensa para os bons e nem de punição para os maus. Um mundo onde a morte é sem apelação e definitiva - e como para quem escreveu aquilo Marx certamente era um deus, é lícito supor que o fulano imagina ser este também um mundo -, sem chances de uma ressurreição corpórea ou, pelo menos, de uma vida eterna num além qualquer, por menos espiritual que seja. Mas muita gente, sobretudo o presidente George Bush e Cia, gosta de pensar que, se Deus pode ter batido as botas, o Diabo continua muito vivo, vivíssimo. Para justificá-lo, arrolam razões que vão do holocausto à destruição do Word Trade Center, dos mais variados "serial killers" e jovens despirocados que abatem colegas a tiros de fuzil nas escolas americanas aos homens-bomba que se atiram contra a fina flor de West Point acantonada no Iraque e governantes não-alinhados que vivem a espicaçar os EUA como o venezuelano Hugo Chávez. 2 – EIXO DO MAL Segundo eles, se há pessoas e ações más, isso é prova irrefutável de que existe o Mal (com inicial maiúscula) e, portanto, seu causador derradeiro, até mesmo personificado sob alguma forma - o Diabo, enfim. E para circunscrever a maldade em limites geográficos que possam ser eventualmente bombardeados, estabeleceram que os países que não comungam do mesmo credo de Washington – com todas as pessoas que neles habitam – formam o que denominaram de “Eixo do Mal”, que é para onde estão apontados os mísseis cujas ogivas atômicas os dizimarão na hipótese de a paranóia americana desandar em piração inapelável. E antes que o capiroto tome conta deste espaço por completo, retornemos a Deus que, não obstante a declaração de Nietzsche, continua a provocar mais reboliço do que seria de se esperar de um morto. Depois de tanto tempo de agnosticismo, ateísmo ou simples desinteresse religioso - no Ocidente, bem entendido -, Deus se tornou, apesar de familiar, um personagem tão estranho que um número cada vez maior de pessoas começou a se perguntar - que história é essa? Por que raios os povos de quem herdamos a religião acharam mais interessante ter apenas um deus algo distante e invisível no lugar de tantas outras divindades tangíveis de antigamente? Com que materiais da imaginação ou da ansiedade foi composto o referido Deus? Quem é, afinal, Deus? Esta é a pergunta central que Jack Miles, um ex-jesuíta, coloca no centro de seu livro "Deus - Uma Biografia" (Companhia das Letras). Mesmo para cristãos acostumados a ler os Evangelhos - quatro versões da biografia de Jesus Cristo, o filho de Deus que habitou entre nós - a idéia de uma biografia de Deus Pai pode parecer chocante. Mas para Miles, os livros que compõem o Antigo Testamento e o Tanach, a bíblia hebraica, são uma biografia de Deus. Ao contrário dos evangelistas, porém, ele não faz uma abordagem histórica de Deus enquanto personagem histórico real e não entra em considerações teológicas dos textos ditos sagrados. 3 – ALIANÇA CELESTIAL Com a ajuda de uma resenha encontrada na Internet, infere-se que quando Miles se reporta a uma "biografia" de Deus, ele está falando sério. Segundo seus conceitos, Deus assume vários "papéis", que debatem entre si e se entrechocam. Criando o mundo e o homem, Deus parece não saber das implicações de seus atos e, na seqüência, muda várias vezes de atitude. Como diz o autor, seria possível atribuir cada uma dessas atitudes distintas e não raro contraditórias a um deus diferente. E, no entanto, a riqueza bíblica está na reunião de todas elas num único demiurgo complexo - Deus. O mais provável, obviamente, é que o Deus da Bíblia judaica seja mesmo uma síntese de diversas divindades da região, deuses vários que aos poucos se amalgamaram num único. Enfim, depois de apresentar o Criador como personagem de biografia, o ex-seminarista julgou que uma continuação não era lá um disparate assim tão grande. Afinal, o Deus do Velho Testamento, que criou Adão e Eva e os expulsou do paraíso, seria o mesmo que, arrependido de sua fúria divina, desceu para resgatar as criaturas no Novo Testamento. É outro choque a 2ª parte da história contada pelo escritor em “Cristo: Uma Crise na Vida de Deus” (mesma editora). Conforme anota o texto da capa, recuperado do susto, o cristão que prosseguir na leitura deste segundo livro enfrentará outros tantos sobressaltos de indignação. Deus, segundo Miles, não cumpriu a promessa de acabar com a opressão aos filhos de Israel e, numa crise suprema, "encarnou" o sofrimento dos judeus, transformando-se, ele mesmo, num deles. Assim como Nietzsche ofereceu um antimito aos modernos, apresentando os cristãos como perversos adoradores de um deus morto, Miles volta à carga sem ser tão insolente. Mas como os cristãos não vivem sem esperança, o livro termina bem, reafirmando a promessa do casamento celestial no Novo Testamento. Os justos serão recompensados e Jack Miles, o "blasfemo", será perdoado por usar os Evangelhos a seu bel-prazer. Boa Páscoa!
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