Uma endemia de Raiva Animal está preocupando pecuaristas na região de Costa Marques. Somente neste ano, pecuaristas calculam que já morreram cerca de 300 animais infectados com o vírus da doença. A doença é transmitida pelo morcego hematófago, que, contaminado, morde o animal a transmite a doença. O gado doente, também pode transmitir a doença para humanos, através do contato da saliva com alguma ferida que o tratador do animal pode ter.
*Um relatório apurativo feito por técnicos da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Ronônia (Idaron), em parceria com a Agência Estadual de Vigilância Sanitária (Agevisa), descreve a gravidade da doença na região de Costa Marques. Foi constatado que a quantidade excessiva de morcegos hematófagos encontrados na região, aliado aos focos de raiva em herbívoros torna a situação de enfermidade epidemiológica do local favorável a proliferação do vírus, caso não sejam tomadas medidas preventivas, disseminando o vírus no sentido Costa Marques – São Francisco.
*Um fator relevante, levantado no relatório é a topografia do local, que é rica em morros, cavernas e fendas, o que oferece um habitat ideal para os morcegos. “Vale a pena ressaltar que as colônias de morcegos, dentre eles o hematófago têm a sua reprodução otimizada, quando encontram condições favoráveis de habitat e alimento”, cita o documento.
*
PREJUÍZO
*O fazendeiro Carlos Henrique Andrade Carvalho, que a pouco tempo mudou sua fazenda de Rolim de Moura para Costa Marques, perdeu 27 cabeças de gado, “prejuízo muito grande, considerando o valor que pode ser gasto para a prevenção da doença”, destaca o pecuarista. Como não sabia que a região era endêmica para o vírus, Carvalho não se preocupou em vacinar seu gado.
*“Ao perceber que o gado estava doente, chamei um técnico da Idaron que me garantiu que não era Raiva, foi dado outro diagnóstico. Após a morte do gado, chamei novamente a Idaron e o cérebro de dois animais foram levados para fazer exames laboratoriais. A raiva foi confirmada nas duas cabeças”, afirmou o pecuarista.
*Carvalho disse que após aplicar a vacina e fazer o reforço, não teve mais prejuízo.
*Outro fazendeiro, vizinho de Carvalho, Carlos Roberto da Silva, já perdeu 22 animais. “Pelos sintomas, não há dúvidas de que é a Raiva. Já vacinei e todos os meus animais e estarei fazendo o reforço para garantir que o gado não continue morrendo”, diz Silva.
*Os fazendeiros afirmam que vários outros pecuaristas da região já perderam algumas cabeças. “Há casos de fazendas a 6 km da minha, e de outras um pouco mais distantes, onde o vírus já atacou o gado. Acreditamos que devemos ter chegado a uma perda em torno de 300 cabeças, só aqui na região”, complementa Silva.
*
AÇÕES
*Quando da apuração feita pela equipe da Idaron, do Departamento de Epidemiologia da Vigilância Sanitária do Estado e da Secretaria Municipal de Saúde de Costa Marques, no início do mês de fevereiro, algumas medidas de precaução e prevenção foram tomadas, entre elas o bloqueio da doença nas fazendas onde foram confirmados os casos, que consistiu na vacinação de animais de pequeno porte, vacinação de animais de médio e grande porte e tratamento profilático nas pessoas que tiveram contato com os animais, disse Antônio Salviano Matos, médico veterinário da Sesau que acompanhou a equipe.
*Cleonice dos Santos, coordenadora do Programa estadual da Raiva da Idaron, informou que a Agência baixou portaria exigindo que tanto no local do foco, como na área focal (correspondente a um raio de 25km), os pecuaristas realizem a vacinação do gado e comprovem na agência da Idaron. Segundo a coordenadora, essa ação é comum sempre que há registro de focos da Raiva.
*Outra medida da Portaria, foi a inclusão obrigatória da vacinação contra a Raiva Animal em todo o município de Costa Marques, no mesmo período da campanha contra a Febre Aftosa. “Considerando os casos de Raiva confirmados na região de Costa Marques, estenderemos a campanha de obrigatoriedade da vacina por no mínimo dois anos. Após esse período, estudaremos a necessidade de continuar ou não a campanha.
*Como continuidade das ações, ficaram acordadas ações conjuntas da Idaron, Secretaria Estadual de Saúde e Secretaria Municipal de Costa Marques, e Secretaria Municipal de Educação e Emater. Entre elas, a antecipação da primeira etapa da campanha de vacinação anti-rábica canina e felina na região, que deve acontecer até a segunda quinzena de março; orientação educacional sobre a doença nas reuniões de associações e nas salas de aula e a captura do morcego responsável pela transmissão do vírus.
NÚMEROS REAIS
*Um dado interessante do relatório é a preocupação dos técnicos quanto a notificação por parte dos fazendeiros da região à Idaron quanto ao aparecimento da doença. Alguns fazendeiros com temor de ver seu gado sacrificado, podem não comunicar a Agência a suspeita do surgimento do vírus em seus animais, com receio de interdição da propriedade e outras sanções “que precisam ser dismitificadas”.
*Os pecuaristas que não cumprirem as determinações da portaria, que têm objetivo de manter a sanidade animal, podem sofrer sanções, alertou Cleonice dos Santos.
*Outra questão é quanto ao registro nas Notificações de Raiva em Herbívoros, que é apurado anualmente, pois soa aparecem na Notificação, números comprovados em laboratório. Como exemplo pode-se tomar a fazenda de Carlos Carvalho, pois do total de 27 mortos, apenas dois tiveram o cérebro examinado. Somente esses dois números farão parte das estatísticas.
*VEJA TAMBÉM:
* Vigilância Sanitária alerta população para a proibição e os riscos da auto-hemoterapia
* Esgoto a céu aberto pode ser motivo de interdição de Unidade de Saúde na zona Sul