Tenho refletido muito sobre a polêmica tolerância. Longe de defender uma tese sobre este assunto, no entanto, opto, como sempre, em buscar a razão, mas não suplantando a emoção, pois entendo que a razão divorciada de sentimentos, leva-nos a outros caminhos. como aquele perdão apenas exteriorizado, com forte tendenciamento demagógico e fútil. Muitos, não sabem ou se esquecem do valor das palavras e do magnetismo que elas representam.
Pois bem: Certa feita, lá pela “banda” do Nordeste, um próspero fazendeiro veio a falecer. Como acontece sempre nos velórios de longínquos lugarejos, compareceram os amigos, familiares, empregados e as autoridades locais. De madrugada, em determinado momento, os presentes ficaram em polvorosa, saíram em debandada. Acontece que o defunto começou a se levantar do caixão. Na verdade, ele não havia morrido.
O delegado que se encontrava presente ao velório sacou o revólver e por quase não atira no ex-defunto. O padre incrédulo ao que assistia, sacou do bolso um crucifixo e passou a maldizer o defunto, dizendo que o Diabo havia tomado conta do corpo do fazendeiro, e danou a rezar aos gritos e a jogar água benta, clamando: sai Satanás! O pastor não perdeu tempo e em seus cultos começou a fazer pregações sobre possessões demoníacas, uma vez que o dito fazendeiro era católico.
As conseqüências destes fatos foram drásticas. A família rejeitou o ex-defunto. Nem a mãe e a esposa aceitaram. Na cidade, ninguém queria conversar com o “diabo”, como passou a ser conhecido. Os seus negócios acabaram falindo. Desprezado e discriminado ficou na miséria. Atormentado, enlouqueceu, foi parar no manicômio e acabou morrendo, agora de verdade.
A história da civilização dita humana está repleta de casos, alguns inclusive praticados, apregoando-se que eram em nome de Deus. A própria Igreja Católica protagoniza muitos episódios, como os horrores do tempo da Inquisição. Mas o que todos estes relatos tem haver com a proposta inicial com relação a tolerâncias e intolerâncias? Tudo! É a máxima da realidade, é o exercício pleno do pior de todos os males: a ignorância. Precisamos nos acautelar diante de certos fatos apontados como verdadeiros. Façamos uma reflexão:
Como uma borboleta que deixou de ser uma lagarta seria tratada por suas antigas companheiras. Naturalmente, ao comentar da grandeza do planeta Terra, da existência das flores, dos frutos, e de outros elementos da natureza, poderia ser a pobre borboleta tratada como louca, endemoniada, ou simplesmente poderia até mesmo ser penalizada com a morte. Rasteiras, reduzida ao solo da terra, ou a alguns galhos das árvores pequenas, essa seria a verdade das lagartas.
Precisamos sempre e sempre, ao nos deparar com algo novo (desconhecido), ou até mesmo algum fato alardeado como a verdade absoluta, sempre nos acautelarmos, para que não venhamos a cometer injustiças.
Conjeturando, poderia ainda provocar o desafio de nos situar, por exemplo, em épocas históricas passadas e nos indagar qual seria o nosso posicionamento. Estaríamos acomodados e acobertados covardemente pelo manto da maioria, ou procuraríamos entender aqueles fatos, ir à busca da verdade?
A Maçonaria Universal atravessa um momento que requer especial atenção de todos os maçons. O momento é de reflexão e de posicionamentos. Caminhamos a passos acelerados para a vazão das vaidades pessoais. A forma de como estamos tratando de assuntos e atos maçônicos de forma exteriorizada, acaba de certa forma, respaldando a ação de delinqüentes.
Nestes dias de injustiças, de tormentos e perseguições, recorremos sempre ao Livro da Lei que diz: “Até esta hora padecemos fome, e sede, e nudez, e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e fatigamos-nos trabalhando com nossas próprias mãos. Quando vilipendiados, bendizemos; perseguidos, sofremos; e difamados, rogamos. Somos feitos como refugo do mundo, como escória de tudo até agora”. (I, Cor. 4:11-13). A Maçonaria é um fato da natureza, e sendo um fato da natureza, seus fenômenos, ensinamentos e práticas tem que se repetir dentro do corpo humano, Templo vivo de Deus.
São tantas as besteiras relacionadas à Maçonaria, algumas delas infelizmente “alimentadas” pelos próprios maçons. Entre sandices e baboseiras, o folclore é extenso envolvendo a Ordem Maçônica. Por se tratar de uma instituição cujas práticas e ações são de âmbito secreto (nem tanto assim nos dias atuais), parte do clero da Igreja Católica no passado, tratou de jogar mais “lenha na fogueira”, por um longo período do nosso Brasil Colonial.
Felizmente hoje, apenas um reduzidíssimo grupo do clero ainda mantém algum tipo de restrição. Mas no passado, para um maçom se casar, batizar um filho, ou ser padrinho, enfrentava restrições por parte dos sacerdotes. Alguns se recusavam até mesmo a celebrar a missa de sétimo dia, por ocasião do falecimento de um maçom, mesmo sendo católico. As relações com a cúpula da Igreja Católica Apostólica Romana foram minimizadas em todo mundo, depois de terminada a Segunda Grande Guerra Mundial.
Com o decorrer dos tempos e o desenfreado aumento de fanáticos, combinado com o aparecimento de seitas de todas as espécies, pessoas se intitulando de uma hora para outra como pastores, enviados de Deus, missionários e outras “coisitas”, alguns grupos de evangélicos, vêm promovendo uma verdadeira cruzada (vide sites na internet), contra a Maçonaria. Parece até que retornamos aos tempos lamentáveis da irônica (no nome) Santa Inquisição. Um louco denuncia, por exemplo, que a Maçonaria está envolvida com o crime organizado.
As invencionices contra Maçonaria agora recebem novos contornos. Pregam abertamente, e tentam semear a discórdia, declarando que somente ao chegar ao último grau é que se passa a ter conhecimento que a nossa Sublime Instituição, desde as bases elementares, promove as tais práticas satânicas. A plenitude da Maçonaria é a de Mestre Maçom e assim sendo, estes críticos se equivocam ao tecer comentários sobre os graus filosóficos.
No Brasil Colonial, era parte do clero que nos “detonava”, denunciando que praticávamos as escabrosas missas negras e que ao invés dos santos, adorávamos o Bode (o tal) que efetivamente se transformava na figura do Diabo.
Mas alguns maçons, com o decorrer dos tempos, foram incrementando ainda mais este folclore em torno do bode. Os técnicos em invencionices de plantão, que tanto têm recheado a literatura maçônica com baboseiras de todas as espécies, aproveitaram, “deitaram e rolaram” sobre o assunto.
O bode é mais uma das muitas tolices que se tem falado a respeito da Maçonaria. Mas existe ainda a estória defendida até mesmo por pessoas ditas como esclarecidas, e está relacionada a um tal pacto com o Diabo. Estas pessoas asseguram que, ao ingressar na Ordem, o candidato teria que entregar um de seus filhos ou filhas, para o Diabo.
A minha contestação justifica-se plenamente, pois devemos evitar embaraços para os filhos de maçons, às vezes, alvo de questionamentos ou críticas em seus ambientes escolares ou sociais, e que na sua grande maioria ficam sem saber o que dizer, se revoltam, e começam também a acreditar nestas besteiras. O primeiro caminho para se combater estas tolices, é não alimentá-las. Não tenho conhecimento que um distintivo com a figura de bode, seja alguma condecoração maçônica.
Mesmo na brincadeira devemos ter responsabilidade, para não “alimentar”, aqueles que por desconhecimento ou maldade, continuam a difamar e caluniar a Ordem Maçônica. Recentemente em um evento religioso foi divulgado que durante a Iniciação Maçônica ocorria uma transfusão de sangue do bode para o aspirante a maçom e que se configuraria no ato a entrega da alma, via pacto de sangue com o tal Diabo. Um tal “pastor” que diz ter sido iniciado na Ordem Maçônica para fazer sucesso em seus cultos anuncia que a instituição maçônica tem práticas diabólicas e inclusive sacrifício de animais. O ser humano precisa aprender que pelo fato de ter suas convicções religiosas, entendidas como sagradas e verdadeiras, não precisa rebaixar ou destruir a religião dos outros.
Autoria: Paulo Ayres – Mestre Maçom / Perf Subl Maç