Ao querido poeta: ?palavras como pétalas? - Por: Marcos Souza

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Foto: Divulgação

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*Por: Marcos Souza *As manhãs brancas de Porto Velho, no sufocamento involuntário do fumaceiro proveniente das queimadas ? protesto constante do fotógrafo Luiz Brito e toda a população ?, já prediziam que algo de bom não estava por fim. *Já não bastasse as mazelas cotidianas estampadas nas capas de jornais, nas chamadas dos telejornais, na falta de respeito com o cidadão, o servidor publico deste país, desse nosso Estado, ainda me falece o ?Bahia?, meu querido poeta. *Meu amigo, o poeta por convicção, o jornalista por paixão, economista por opção e, esse sim, o verdadeiro ?detetive cultural?, pois onde tinha um evento artístico, lá estava José Ailton Ferreira ?Bahia?, que faleceu na quarta-feira (21) de câncer no pâncreas, às 15 horas, de uma tarde abrasiva, quente demais até. *Ele, ao lado de Selmo Vasconcelos, foi um dos criadores da página cultural mais famosa do Estado, a ?Momento Lítero-Cultural?, um espaço democrático, onírico e límpido aos padrões jornalísticos impresso. Tornou referencial no jornal Alto Madeira, e era a página mais amada do jornalista e proprietário do matutino, ?seu?Euro Tourinho. *Quando trabalhei ao lado de Ismael Machado, em 1996, na editoria do Caderno 2 do Alto Madeira, tínhamos o amigo e poeta ?Bahia? como um batalhador, o incansável homem das letras, que chegava de mansinho na redação, trazia a sua pasta debaixo de braço e dali escolhia fotos, textos e poemas, que juntamente com o Selmo iria tomar conta da ?Lítero-Cultural? daquela semana. E ele não era remunerado naquela época, trabalhava por amor à arte, a sua página era uma colaboração para o jornal, com apoio total do ?seu? Euro Tourinho, que sustentou durante muito tempo aquele espaço, que para muita gente da redação era coisa de ?bitolado?. *"Bahia" era propenso a receber crítica pela sua postura lúdica, viajando em versos, no tratamento carinhoso com as pessoas, sempre ávido por informação, por estabelecer contatos com novos artistas, traçar um intercâmbio cultural relevante ao crescimento local. Por isso mesmo era figura fácil nos saraus culturais, principalmente naqueles organizados pelas poetizas ? e historiadora - Nilza Menezes e Eunice Bueno ? que findaram numa época áurea e unilateral para transformação da cultura local em que tentou se criar mitos e formas através de vários segmentos artísticos. *Conversava com o meu amigo Ismael pelo MSN e passávamos a limpo algumas coisas referentes àquela época, meados da década de 90, e temos uma posição realista e objetiva sobre as transformações que Porto Velho viveu naquele tempo, com o jornal Alto Madeira no auge, referência máxima do jornalismo rondoniense, nas mãos do jornalista Ivan Marrocos ? que hoje dá nome a Casa da Cultura, onde o corpo do meu amigo ?Bahia? foi velado -, onde o processo político tinha conotações de transição ainda dentro do Estado, saindo do governo Piana e entrando na era Raupp. *Existia uma ebulição cultural vigente e que estava tentando transgredir o marasmo local, surgiam festivais de teatro ? o Teatro Um do Sesc, antes da reforma, era um referencial nesse sentido -, aliás havia uma equipe brilhante no Sesc ? comandada pelo Julio Yriarte, onde ainda tinha Suely Rodrigues e Wesley Santos - que proporcionava essa abertura bestial; tinha a literatura poética libertária de ?Bahia? e Selmo Vasconcelos, que teimavam em lançar livros a torto e direito, promovendo o ?varal de poesias? em recitais. E o ?Bahia? era a válvula de escape desse processo, ele fazia questão de utilizar o espaço que tinha na imprensa e divulgar os valores locais, que ele achava relevante ao processo de transformação por qual o Estado passava. *O seu texto, mesmo que oscilante na ingenuidade lírica, se mesclava com a informação jornalística e proporcionava um deleite contemplativo aos seus leitores. Ele costumava comentar na redação dizendo que atendia ao anseio público de querer saber que existem personagens e figuras representativas da cultura local que, à vezes, moram do seu lado e você não sabe. *Nos tempos atuais, da vergonha nacional surgindo a todo momento na mídia, com escândalos políticos sovando a moleira do cidadão brasileiro, ?Bahia? tinha munição para quebrar nos versos a sua indignação com o processo político atual, pois vergava na inspiração desse poeta um sangue genuinamente brasileiro, quente, que não tinha papas na língua em xingar, rimar ?a política que camufla e rouba como pode? com ?... e nada nas contas do povo, que só se fode?. Os versos não são dele, são meus, mas sintetizam um outro quinhão de poesias de cunho social do meu querido poeta. *?Bahia? deixa um legado para as estrelas do firmamento que cobrem Rondônia; um estopim abrasivo para que a revolução cultural no Estado nunca se esmaeça, pelo contrário, fortaleza, cresça, se torne íngreme, singular, desbravadora como ele sempre sustentou, ainda que não fosse um filho da mesma pecha que torna cosmopolita e contemporânea o ?Madeirismo?, a sua importância está na força dos seus versos, das suas palavras, das suas ações e da sua índole como ?homem cultural?. *Na lembrança eterna vejo o poeta nas imagens que vi numa matéria linda realizada pela Simone Norberto há algum tempo para a TV Rondônia, com a figura de ?Bahia? sentado na beira do rio Madeira, na praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, com um livro em uma das mãos, declamando poesia ao vento ? ao tempo, que o seja -, à sua frente além do rio, o reflexo do Sol sobre as águas. Como o paraíso deveria ser para ele: o rio, um livro, um sorriso e um até breve. *Ao querido poeta e amigo.
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