*Durante quatro dias jipeiros percorreram a BR-319, de Porto Velho à Manaus, numa aventura batizada de ?Expedição Amazônica?. O grupo percorreu os 930 km de buracos e pontes da rodovia federal e que já foi o símbolo da ocupação Brasileira na Amazônia e hoje se encontra no mais completo abandono.
*A expedição foi realizada entre os dias 6 e 9 de agosto e idealizada por Sérgio Freitas (63), executivo do sistema financeiro, contou com a participação de doze pessoas.
*De São Paulo participaram Clemente de Almeida (70), médico, João Forbes (38), executivo do sistema financeiro e Paulo Sérgio (33), ?Batmam?.
*Do Rio de Janeiro participaram Pery Thury (61), engenheiro e Paulo Motta (64),engenheiro. Thury e Motta também são fotógrafos profissionais.
*Em Porto Velho juntou-se a equipe Valdir Nunes (50), mecânico, Vanderlei Mozzini (50), delegado, Enrique Pacheco (50),empresário, Pedro Egea (78), cinegrafista, Silvio Lindoso, Coronel PM e Paulo Andreoli, empresário.
*A expedição utilizou quatro carros: um Jipe Wuiulis (ano 1948) transportando combustível, um Jipe Engesa levando alimentação e cozinha, uma Land Rover com as barracas e bagagem dos participantes e uma Toyota Hilux para os idealizadores. Uma verdadeira caravana.
*Na sexta-feira (8) um dia antes da partida o Ministério Público Federal concedeu uma liminar para o Ibama, suspendendo a recuperação da rodovia em função da falta do relatório de impacto ambiental (clique
aqui e veja a matéria).
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Porto Velho ? Humaitá
*A viagem teve inicio às 15 h do último sábado (6) percorrendo os 200 km de Porto Velho até Humaitá. A BR-319, neste trecho, está em boa condição, apesar de haver dois desabamentos de pista. A construtora que está construindo este trecho permanece com o maquinário estacionado no local.
*Em Humaitá a expedição fez o abastecimento dos quatro Jipes, jantou e seguiu viagem.
*No trecho de 30 km entre Humaitá e o entroncamento de Lábrea a estrada dá os primeiros sinais do que está por vir, mas depois do entroncamento existem 23 km de uma estrada asfaltada em boas condições.
*O acampamento foi montado na sede de uma fazenda, no inicio da parte ?ruim da estrada?.
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Humaitá ? Rio Puruzinho
*No segundo dia de viagem, apesar do acampamento ter sido desmontado ás 6hs, a saída atrasou por causa de uma pane elétrica no Jipe que transportava os mais de 500 litros de combustível necessários para a viagem.
*este dia a expedição andou pouco mais de 100 km. No final da tarde,17hs, foi montado acampamento nas margens do rio Puruzinho.
*No caminho, enquanto era feito o abastecimento, aproximou-se um rapaz com o filho na bicicleta, segundo ele, trazido pelo barulho dos carros. ?Vim ver quem era?, afirmou Giovani Vieira (25), vaqueiro.
*Perguntado pela reportagem se tinha conhecimento da interdição das obras na rodovia, Vieira disse: ?Ouvi na radio Nacional, e acho que está juíza é doida, ela não conhece nossos problemas aqui?.
*À noite, o grupo fez uma caminhada pelo leito da rodovia. O céu impressiona pela beleza.
*Pela manhã um veículo se aproximou do acampamento. Era o primeiro carro encontrado pela expedição em mais de 14hs, acampados no local, passou.
*O viajante era José Maria Pontes (40), engenheiro responsável pelo estudo geotécnico para as fundações das mais de 40 pontes e 100 bueiros no trecho de 140 km sob sua responsabilidade. Segundo Pontes esta primeira etapa no projeto de reconstrução da BR foi dividida em lotes de aproximadamente 60 km cada. São três empresas trabalhando neste trecho. Cada uma com um lote. ?A Maia Melo, a Laghi e a ATP? informou Pontes.
*Segundo o engenheiro, eles estavam há mais de sessenta dias acampados na estrada, com 40 homens no estudo geotécnico e 45 na topografia acampados, sendo que cinqüenta destes trabalhadores contraíram malária.
*Numa conclusão preliminar foi constatada no laboratório de composição de solo, montado em Humaitá, que a acidez do solo provocou a destruição dos tubos metálicos que fazia a drenagem dos bueiros ao longo da rodovia. Desta vez serão utilizados tubos de concreto.
*Na construção de pontes de concreto José Maria disse que a maior será construída sobre o rio Acará, com um vão de 100 mts.
*?O grande problema desta estrada foi à colocação de bueiros com vazão insuficiente para a movimentação natural das águas que compõem a bacia amazônica?, finalizou o engenheiro Pontes.
Na hora de levantar acampamento apareceu um jovem, que estava saindo para caçar peixes com sua zagaia. O pequeno caçador, Marcelo Lima de Souza, 11 anos, que atualmente estava cuidando sozinho da área da família, já que a mesma se encontrava em Humaitá em tratamento de saúde (malária).
*Segundo Marcelo antigamente havia uma vila com posto de saúde e professor, mas quase todos foram embora e restaram pouco mais de dez pessoas no local. Hoje o agente da FUNASA passa uma vez por semana e a escola fechou. Marcelo não estuda. Sobre sua caçada para subsistência o pequeno e corajoso caçador disse que não é muito bom de zagaia. ?Só consigo matar um ou dois peixes por dia, mas tá bom, se matar mais não dou conta de comer? finalizou Marcelo.
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Rio Puruzinho ? Rio Igapó-Açu
*Depois do rio Puruzinho a estrada acaba. Se transforma numa trilha na selva, uma picada em que nada lembra uma rodovia federal.
*No km 500 da BR-319 existe um pequeno restaurante, que serve refeições e vende conservas. O proprietário Julito Ambrosio (52), residente no local há 12 anos, não sabia da interdição do MPF na obra na rodovia. Ficou decepcionado.
*Segundo Ambrósio tinha melhorado muito seu faturamento, atendendo o pessoal de topografia e Embratel.
*?Esta é uma noticia ruim, dá uma tristeza ver nosso sonho de melhorar de vida acabar?, declarou Julito.
*Um motociclista chegou no local , Luis Roberto Fonseca (39), fiscal da Líder Telecom, empresa á serviço da Embratel. Segundo Fonseca, a empresa está construindo uma via aérea para os cabos de fibra ótica, ligando Manaus com o resto do Brasil. Os cabos não estão sendo enterrados porque as máquinas que estão reconstruindo a rodovia, na movimentação de terra podem rompê-los. Os postes são de Aquariquara e Itaúba, retirados ao longo da BR com mais de 800 km de cabos a serem instalados.
*?Acredito que esta interdição é temporária, depois a estrada sai?, declarou Luis Roberto.
*A expedição passou por o único posto de combustível que havia no trajeto entra Humaitá e o Careiro. O posto está abandonado há muitos anos e a mata começa a engoli-lo.
*Impressionou a todos diversos carros abandonados à margem da rodovia. Os veículos estão todos depenados. Os motoristas literalmente desistem da travessia e abandonam suas conduções.
*Chamou a atenção também a grande quantidade de casas abandonadas. Os aventureiros não avistaram nenhum caminhão Toreiro, nem serraria em operação.
*A expedição chegou noite alta nas margens do rio Igapó Açu e montou acampamento.
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Rio Igapó Açu ? Manaus
*A alvorada da expedição foi às 6hs. Todos os membros estavam completamente cansados pela dura travessia do trecho mais critico da BR-319.
*A reportagem do
Rondoniaovivo.com ouviu moradores desta comunidade que já foi noticia no
Fantástico por ter um Boto Rosa manso e que é alimentado na mão uma menina.
*O pescador e agricultor, José Santana (54), afirmou que a estrada não sai por causa dos balseiros que transportam os caminhões pelo rio.
*?Faz anos que a gente espera a estrada sair e ela nunca sai. Já veio muitas vezes dinheiro mas o povo come esse dinheiro e estrada nunca sai?.
*Raimundo Pereira da Fonseca (53), pescador no verão e agricultor no inverno, disse que sem a estrada é muito difícil tirar as pessoas doentes da vila e que o custo da alimentação é muito alto.
*?Antigamente, quando havia a estrada, aqui no igapó tinha de tudo, cebola, tomate, hoje não?, declarou Fonseca.
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Igapó Açu ? Manaus
*Do Igapó até o rio Castanho a estrada começa a melhorar. Isto não quer dizer que não seja ruim. Só melhora um pouco.
*Do Castanho ao Careiro da Várzea a Gautama Engenharia está fazendo a recuperação da rodovia. Todo o maquinário e caminhões utilizados na obra são zero quilômetro. Na terça feira (9), quando a expedição cruzou com o maquinário trabalhando, ainda estava em vigor a liminar suspendendo as obras na rodovia
*No Careiro, onde se pega uma balsa para uma travessia de 40 minutos, cruzando com o encontro das águas do Rio negro com Solimões para finalmente aportar em Manaus, à equipe expedicionária falou com a reportagem do
Rondoniaovivo.com sobre suas impressões da travessia da abandonada BR-319.
*Segundo Valdir Nunes (50), mecânico, é uma ?vergonha nacional? as condições desta rodovia e demonstra a falta de vergonha na cara dos políticos e o descaso com a população da Amazônia.
*Clemente Almeida, médico que atendeu duas crianças durante a expedição, não existe sistema de saúde no local. ?Qualquer pessoa que precisar de assistência médica pode morrer por falta de condições de sair com rapidez do local. È inclusive inconstitucional o que é feito com estas pessoas? ,afirmou Almeida.
*Para Sergio Freitas a satisfação de transpor mais este desafio é indescritível.
*?Agradeço o empenho da equipe que não mediram esforços para a conclusão deste projeto com sucesso?, afirmou Freitas.
*A reportagem, após quatro dias de estrada, quatro balsas, mais de 200 bueiros e 100 pontes, chegou a algumas conclusões.
*Esta estrada é uma excelente opção de turismo de aventura. Não é viável o transito de caminhões na BR-319. Apenas carros de passeio e ônibus. A estrada, com seu aterro sobre o grande charco amazônico, não suportaria peso excessivo e seria novamente destruída.
*A Policia Rodoviária Federal deveria ter patrulheiros treinados em pilotagem Off- Road com motocicletas para dar segurança a população que se encontra isolada na selva. O Governo Federal, o Exercito Brasileiro deve imediatamente tomar posse e dar condições dignas para os brasileiros que estão cuidando do nosso maior patrimônio e motivo de cobiça mundial, a Amazônia. SELVA!!!!