Um bebê de dois meses abandonado na porta de uma casa no bairro Cambará está mudando a vida de um casal, que já tinha três filhas. Depois que o professor, 40, e sua mulher, uma estudante de psicologia de 26 anos, que preferiram preservar suas identidades, trancaram a porta da casa para dormir, na quinta-feira da semana passada, ouviram alguém bater e ao abrirem o portão surpreenderam-se com o que encontraram no chão: o menino, que estava bem vestido e de banho tomado, acomodado na calçada, forrada por uma frauda e sem nenhum sinal de agressão física. A criança apresenta traços indígenas de etnias da Guiana.
*Apesar da situação lastimável, o casal comemorou o que consideram um presente, pois desde que a mulher fez uma cirurgia de laqueadura, os dois cultivam o sonho de adotar um menino para fazer companhia às três meninas de seis, três e dois anos. “A gente ia adotar daqui a uns três anos, mas como ele foi deixado na nossa porta, vamos tentar ficar com ele”, disse o professor.
*O professor acredita que foi escolhido pela mãe biológica da criança para cuidar do bebê, em razão das condições que o menino foi deixado: limpo, vestido e com o cartão de vacina que diz a data de seu nascimento - 30 de dezembro de 2005 - e o acompanhamento médico que a criança vinha recebendo. A folha do cartão que identifica a mãe foi rasgada.
*Esse é um dos argumentos com que ele pretende convencer o juiz da Vara da Infância e Juventude a conceder a guarda provisória da criança, pedida em liminar, e depois a adoção. A ação foi ajuizada ainda na semana passada, mas o bebê foi entregue aos cuidados do Abrigo Feminino Pastor Josué, como medida de proteção conforme a legislação brasileira.
*O casal visita o menino duas vezes por dia. A estudante de psicologia, que já se considera sua mãe, pediu - e conseguiu - permissão para trabalhar como voluntária no abrigo todos os dias pela manhã só para estar perto da criança.
*O professor é ativista na defesa dos direitos indígenas e tem um amplo envolvimento com o trabalho social em Boa Vista. Por causa disso, acredita que seja conhecido da mãe da criança, o que reforça a tese de que ele e sua mulher foram “escolhidos” para serem os pais do menino.
*Casal pede na Justiça guarda provisória da criança
*O processo em que o casal pede na Justiça a guarda provisória e a adoção do bebê deixado em sua porta está pronto para ser despachado no Juizado da Infância e Juventude. O secretário do juizado, Jeffeson Kennedy dos Santos, acredita que o despacho para o Ministério Público pode ser dado hoje ou amanhã, antes da sentença da liminar que pede a guarda provisória.
*Paralelo à instrução do processo, a equipe de agentes do Juizado está tentando localizar a mãe do bebê e sua família. Mas no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, onde o parto foi realizado, não foi encontrado o registro da vacina que a criança recebeu no local para que os agentes pudessem encontrar pistas sobre como chegar ao nome da mulher e seu endereço. Já no posto de saúde onde o bebê recebeu sua última vacina os profissionais também não arquivaram nenhuma informação sobre o bebê.
*Kennedy elogiou a postura do casal, que procurou a Justiça imediatamente após ter-se deparado com o abandono da criança. “Eles fizeram o procedimento adequado e mesmo querendo ficar com o menino, entregaram-no para o serviço de proteção do juizado”, destacou.