O carro-chefe é o Hilary London Dry Gin, disponível em versões para o varejo e para o canal B2B, com embalagens adaptadas para bares e restaurantes. A empresa também desenvolveu um kit presente com garrafa e taça personalizada, e trabalha em uma nova linha de bebidas prontas baseada em frutas amazônicas. Em 2025, a marca cresceu mais de 270% e chegou a 100 pontos de venda no Brasil, com presença em estados como Amazonas, Roraima, Distrito Federal e Goiás. Para 2026, a meta é expandir para Pará, Rondônia, Acre e Minas Gerais.
Além do produto, a Hilary aposta em logística reversa, rastreabilidade e produção local. A empresa está em busca de investimento para a instalação de uma fábrica própria em Manaus, com o objetivo principal de fortalecer o relacionamento com comunidades fornecedoras, como a Associação de Agricultores da Comunidade Uberê. "Cada garrafa é uma celebração da floresta. Nosso propósito é criar bebidas que gerem valor para a Amazônia e ocupem espaço no mercado premium global", diz Omena. A startup foi apoiada pelo programa Sinapse Bio, da Jornada Amazônia, que contribuiu para estruturar sua operação e estratégia de crescimento.
O que começou como uma pesquisa acadêmica tornou-se uma startup de biotecnologia. A A²mazônia Sour foi idealizada em 2021 na Universidade Federal do Pará (UFPA), quando o pesquisador Vitor Hugo Auzier Lima cursava doutorado em biotecnologia - paralelamente, Vitor realizava também uma pós-graduação em Tecnologia Cervejeira na mesma instituição. A pesquisa de Vitor o levou a estudar uma microbiota nativa presente na casca do açaí, já descrita na literatura científica, e propor uma nova aplicação para esses microrganismos.
Com potencial fermentativo, os microrganismos deram origem a uma cultura-mãe usada na produção de cervejas do tipo sour, sem uso de leveduras comerciais. Os primeiros testes, realizados durante a monografia de Vitor, utilizaram apenas os microrganismos nativos; hoje, a produção combina a microbiota amazônica com leveduras comerciais, garantindo estabilidade e perfil sensorial.
O desenvolvimento da tecnologia levou, em 2024, à criação da A²mazônia Sour, em sociedade com Patrick Souza de Alencar, mestre e engenheiro químico. O primeiro produto é a Açaideira, cerveja artesanal de acidez equilibrada, cor intensa e sabor complexo. "Nossa fermentação incorpora microrganismos presentes naturalmente no açaí, o que confere uma assinatura amazônica ao produto, sem uso de extratos ou aromatizantes", afirma Vitor.
Lançada comercialmente em setembro de 2025, a Açaideira já está presente em bares e empórios de Belém, e em breve será distribuída em outras capitais da região. A empresa também desenvolve novas receitas, e avalia parcerias para exportação. Com apoio do programa Sinapse da Bioeconomia, a startup estruturou sua operação e registrou a tecnologia. "Nosso negócio prova que a floresta tem valor, inclusive no que não se vê a olho nu", diz o fundador.
Fazenda Bacuri: tradição familiar e agrofloresta
A Fazenda Bacuri combina tradição agroflorestal e inovação em produtos com frutas nativas. Fundada a partir do legado de Henrique Osaqui, economista e pioneiro no manejo agroecológico na região, a empresa é hoje comandada por sua filha, Hortência Floriano. A proposta é verticalizar a cadeia produtiva, com cultivo, processamento e comercialização de licores e geleias orgânicas de frutas como bacuri, buriti, açaí e cupuaçu.
"Nosso foco é oferecer o sabor autêntico da floresta, com produtos de alto valor agregado, orgânicos e rastreáveis desde a origem", afirma Hortência. A fazenda atua no desenvolvimento de produtos acabados e também como destino turístico, com roteiros voltados à gastronomia e cultura da bioeconomia. O trabalho é parte de um modelo de sucessão rural que já envolve a terceira geração da família, fortalecendo vínculos com o território.
Os produtos da Fazenda Bacuri são vendidos em empórios, hotéis e lojas especializadas em todo o país, e há planos de ampliação para novos mercados e sabores. A empresa integrou o programa Sinergia, da Jornada Amazônia, que oferece apoio a negócios já estabelecidos e em fase de crescimento. "Desde o início, nosso projeto teve como base a valorização da sociobiodiversidade da Amazônia. E seguimos firmes nesse propósito", afirma a empreendedora.
A floresta como diferencial competitivo
Esses negócios fazem parte da comunidade da Jornada Amazônia, plataforma criada pela Fundação CERTI para fomentar empreendimentos de impacto baseados na biodiversidade amazônica. Desde 2018, a Jornada já apoiou mais de 300 negócios por meio de programas como Gênese, Sinapse Bio, Sinergia e Sinergia Investimentos, com o objetivo de valorizar a floresta em pé como estratégia de conservação, mostrando que a floresta em pé pode ser mais lucrativa do que desmatada.
"O avanço desses negócios mostra que a biodiversidade amazônica pode ser a base de produtos sofisticados, competitivos e conectados a mercados exigentes", destaca Janice Maciel, Coordenadora Executiva da Jornada Amazônia. "Nosso papel na Jornada é justamente criar as condições para que essas iniciativas saiam do papel, ganhem escala e mostrem que preservar a floresta também é uma estratégia econômica viável."