BIODIVERSIDADE LOCAL: Como o sabor da Amazônia inspira a nova coquetelaria brasileira

Empresas como AMZ Tropical, Hilary Gin, A²mazônia Sour e Fazenda Bacuri produzem bebidas a partir de matérias-primas como jambu, açaí e castanha-do-pará

BIODIVERSIDADE LOCAL: Como o sabor da Amazônia inspira a nova coquetelaria brasileira

Foto: Assessoria

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Gin de jambu servido em bares de São Paulo, cerveja fermentada com leveduras selvagens do açaí, especiarias amazônicas em garrafas premium e licores orgânicos de frutas nativas: a coquetelaria brasileira tem incorporado, cada vez mais, os sabores da floresta. Com origem em diferentes estados da Amazônia Legal, startups vêm apostando em ingredientes nativos para desenvolver produtos com alto valor agregado e identidade sensorial própria. De negócios de base científica a marcas com DNA familiar, elas ajudam a colocar a biodiversidade amazônica no centro da inovação em bebidas.
 
 
AMZ Tropical: jambu e castanha em rota internacional
 
A ideia da AMZ Tropical nasceu em Belém, no auge da pandemia. Inicialmente, o plano era construir uma destilaria de cachaça em uma propriedade familiar, mas as incertezas do período levaram o fundador Leandro Daher a apostar em outra direção. O resultado foi um gin com flor de jambu, planta típica do Norte brasileiro, que se tornaria o primeiro passo de uma linha de bebidas que hoje inclui também gin de castanha-do-pará e a Jambu Tônica, bebida pronta envasada em alumínio. "Queríamos levar os sabores da floresta para dentro da garrafa. E fazer isso de forma autêntica, com insumos que só a Amazônia pode oferecer", resume Daher.
 
Com sede no Pará e filiais em São Paulo e Miami, a empresa opera em fase de expansão, consolidando sua presença nacional e internacional. Seus produtos estão disponíveis em bares, supermercados e no e-commerce. No início de outubro, a marca inaugurou um bar de experiência no reinaugurado polo gastronômico do Mercado de São Brás, onde pretende conectar visitantes à cultura e aos sabores da região. "Mais do que vender bebidas, queremos criar uma plataforma de valorização da Amazônia, com impacto positivo para produtores locais e para a cadeia da bioeconomia", afirma o fundador.
 
A AMZ Tropical trabalha com fornecedores regionais para garantir o uso de ingredientes frescos e de origem rastreável. O jambu e a castanha-do-pará são os protagonistas de uma proposta que une regionalismo, inovação e um posicionamento de mercado alinhado com o interesse crescente por produtos de origem amazônica.
 
 
Hilary Gin: três mulheres e a floresta na taça
 
Fundada em Manaus por três empreendedoras, a Hilary Gin nasceu com a proposta de criar um gin premium que representasse a Amazônia de forma inédita. Desde 2022, a marca aposta em uma combinação sofisticada de botânicos clássicos com especiarias amazônicas pouco exploradas na coquetelaria, como puxuri, cumaru, jambu, camu-camu e cupuaçu. "Queríamos fugir dos ingredientes já consagrados, como açaí e guaraná, e abrir espaço para outras riquezas da floresta", explica Raquel Omena, uma das fundadoras.
 
O carro-chefe é o Hilary London Dry Gin, disponível em versões para o varejo e para o canal B2B, com embalagens adaptadas para bares e restaurantes. A empresa também desenvolveu um kit presente com garrafa e taça personalizada, e trabalha em uma nova linha de bebidas prontas baseada em frutas amazônicas. Em 2025, a marca cresceu mais de 270% e chegou a 100 pontos de venda no Brasil, com presença em estados como Amazonas, Roraima, Distrito Federal e Goiás. Para 2026, a meta é expandir para Pará, Rondônia, Acre e Minas Gerais.
 
Além do produto, a Hilary aposta em logística reversa, rastreabilidade e produção local. A empresa está em busca de investimento para a instalação de uma fábrica própria em Manaus, com o objetivo principal de fortalecer o relacionamento com comunidades fornecedoras, como a Associação de Agricultores da Comunidade Uberê. "Cada garrafa é uma celebração da floresta. Nosso propósito é criar bebidas que gerem valor para a Amazônia e ocupem espaço no mercado premium global", diz Omena. A startup foi apoiada pelo programa Sinapse Bio, da Jornada Amazônia, que contribuiu para estruturar sua operação e estratégia de crescimento.
 
 
Amazônia Sour: biotecnologia paraense no copo
 
O que começou como uma pesquisa acadêmica tornou-se uma startup de biotecnologia. A A²mazônia Sour foi idealizada em 2021 na Universidade Federal do Pará (UFPA), quando o pesquisador Vitor Hugo Auzier Lima cursava doutorado em biotecnologia - paralelamente, Vitor realizava também uma pós-graduação em Tecnologia Cervejeira na mesma instituição. A pesquisa de Vitor o levou a estudar uma microbiota nativa presente na casca do açaí, já descrita na literatura científica, e propor uma nova aplicação para esses microrganismos.
 
Com potencial fermentativo, os microrganismos deram origem a uma cultura-mãe usada na produção de cervejas do tipo sour, sem uso de leveduras comerciais. Os primeiros testes, realizados durante a monografia de Vitor, utilizaram apenas os microrganismos nativos; hoje, a produção combina a microbiota amazônica com leveduras comerciais, garantindo estabilidade e perfil sensorial.
 
O desenvolvimento da tecnologia levou, em 2024, à criação da A²mazônia Sour, em sociedade com Patrick Souza de Alencar, mestre e engenheiro químico. O primeiro produto é a Açaideira, cerveja artesanal de acidez equilibrada, cor intensa e sabor complexo. "Nossa fermentação incorpora microrganismos presentes naturalmente no açaí, o que confere uma assinatura amazônica ao produto, sem uso de extratos ou aromatizantes", afirma Vitor.
 
Lançada comercialmente em setembro de 2025, a Açaideira já está presente em bares e empórios de Belém, e em breve será distribuída em outras capitais da região. A empresa também desenvolve novas receitas, e avalia parcerias para exportação. Com apoio do programa Sinapse da Bioeconomia, a startup estruturou sua operação e registrou a tecnologia. "Nosso negócio prova que a floresta tem valor, inclusive no que não se vê a olho nu", diz o fundador.
 
 
Fazenda Bacuri: tradição familiar e agrofloresta
 
A Fazenda Bacuri combina tradição agroflorestal e inovação em produtos com frutas nativas. Fundada a partir do legado de Henrique Osaqui, economista e pioneiro no manejo agroecológico na região, a empresa é hoje comandada por sua filha, Hortência Floriano. A proposta é verticalizar a cadeia produtiva, com cultivo, processamento e comercialização de licores e geleias orgânicas de frutas como bacuri, buriti, açaí e cupuaçu.
 
"Nosso foco é oferecer o sabor autêntico da floresta, com produtos de alto valor agregado, orgânicos e rastreáveis desde a origem", afirma Hortência. A fazenda atua no desenvolvimento de produtos acabados e também como destino turístico, com roteiros voltados à gastronomia e cultura da bioeconomia. O trabalho é parte de um modelo de sucessão rural que já envolve a terceira geração da família, fortalecendo vínculos com o território.
 
Os produtos da Fazenda Bacuri são vendidos em empórios, hotéis e lojas especializadas em todo o país, e há planos de ampliação para novos mercados e sabores. A empresa integrou o programa Sinergia, da Jornada Amazônia, que oferece apoio a negócios já estabelecidos e em fase de crescimento. "Desde o início, nosso projeto teve como base a valorização da sociobiodiversidade da Amazônia. E seguimos firmes nesse propósito", afirma a empreendedora.
 
 
A floresta como diferencial competitivo
 
Esses negócios fazem parte da comunidade da Jornada Amazônia, plataforma criada pela Fundação CERTI para fomentar empreendimentos de impacto baseados na biodiversidade amazônica. Desde 2018, a Jornada já apoiou mais de 300 negócios por meio de programas como Gênese, Sinapse Bio, Sinergia e Sinergia Investimentos, com o objetivo de valorizar a floresta em pé como estratégia de conservação, mostrando que a floresta em pé pode ser mais lucrativa do que desmatada.
 
"O avanço desses negócios mostra que a biodiversidade amazônica pode ser a base de produtos sofisticados, competitivos e conectados a mercados exigentes", destaca Janice Maciel, Coordenadora Executiva da Jornada Amazônia. "Nosso papel na Jornada é justamente criar as condições para que essas iniciativas saiam do papel, ganhem escala e mostrem que preservar a floresta também é uma estratégia econômica viável."
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