Se quiserem, os técnicos Lionel Scaloni e Zlatko Dalic podem usar uma sessão de cinema com direito a pipoca para pilhar os artistas Lionel Messi e Luka Modric nas respectivas preleções antes da partida. No ano passado, a Argentina derrotou o Brasil por 1 x 0, no Maracanã, conquistou a Copa América e encerrou 28 anos de jejum. A esquadra principal não ganhava nada desde 1993 e saiu do Maracanã com o troféu graças ao gol de Ángel Di María.
O impacto da conquista foi imediata. A plataforma de streaming Netflix produziu uma série dividida em três episódios para contar a saga alviceleste no Brasil em uma competição sem torcida, portões fechados até a semifinal e acesso restrito na decisão, no Rio. Messi é o ator principal, óbvio, com espaço para os coadjuvantes Di María e Otamendi.
Embora seja a atual vice-campeã, a Croácia tem um filme sobre outra geração. O documentário Vatreni conta a história da seleção terceira colocada em 1998, na França. A trupe do centroavante Davor Suker tinha jogadores filhos da guerra separatista da Iugoslávia, como o craque Proscineck. A campanha heroica na Copa inspirou os mexicanos Edson Ramírez, Alfredo Sánchez e Jorge Linares a lançar Vatreni em 2018, antes da Copa da Rússia, quando o maior feito do futebol croata, até então, completava 20 anos.
O documentário foi apresentado pelos diretores ao treinador Zlatko Dalic antes do embarque da seleção croata para Moscou. Encantado, o diretor prometeu uma apresentação avant-première na concentração da equipe antes da estreia contra a Nigéria e inflamou o elenco. O filme mescla a guerra de independência do país e futebol. Foi o combustível para pilhar Modric e companhia contra todos os adversários, inclusive a Argentina, na segunda rodada, na vitória por 3 x 0.
"Tivemos a oportunidade de apresentar o documentário ao técnico da Croácia uma semana antes de viajarem para a concentração. Ele respondeu que o momento era maravilhoso para mostrar aos jogadores", conta o produtor mexicano Edson Ramírez.
O nome Vatreni não é aleatório. Trata-se do apelido da seleção croata. "Vatreini é aquele fogo que há dentro de você, no seu corpo, e você precisa deixar sair, como uma paixão que faz de você quem você é. Quando a seleção começou a jogar de forma independente, o apelido virou símbolo de ferocidade", explica o cineasta mexicano.
A produção é restrita por causa de usos de imagem de 1998 da Copa da Fifa. Há embargo pesado para exibição em qualquer plataforma. A liberação é condicionada à compra dos direitos. "Nós podemos pagar com recursos próprios para uma exibição, mas estamos à espera de ajuda para desembolsar pelos direitos para exibição internacional", relatou o outro documentarista, Alfredo Sánchez. Em 2018, o direito por exibição custava US$ 15 mil.
Croácia reclama do cansaço; Argentina abafa polêmica
A final da Copa do Mundo só se repetiu em duas edições consecutivas uma vez. Alemanha e Argentina disputaram o título em 1986, no México, e em 1990, na Itália. O desafio da Croácia contra a Argentina é superar o cansaço de duas prorrogações com decisões por pênaltis contra Japão e Brasil, eliminar a Argentina e agendar revanche contra a França.
Na entrevista coletiva de ontem, no Qatar National Convention Centre, o técnico Zlatko Dalic admitiu: o elenco está com as pernas pesadas. "Se conseguirmos a vitória, será a maior partida de todos os tempos para a Croácia. Tem sido cansativo chegar à prorrogação", admitiu. Na verdade, a seleção dele é masoquista.,
No mata-mata de 2018, a Croácia eliminou Dinamarca, Rússia e Inglaterra nos pênaltis ou no tempo extra antes da decisão contra a França. O enredo segue o mesmo nesta edição. A resiliente seleção desbancou Japão e Brasil nos pênaltis depois de começar perdendo.
Os comandados de Lionel Scaloni também disputaram pênaltis nas quartas contra a Holanda. Ontem, Lionel Scaloni defendeu os pupilos das polêmicas do jogo passado. Os jogadores tripudiar da Laranja Mecânica depois do triunfo. "Nós sabemos ganhar e perder. Nós respeitamos a Holanda, respeitamos a Croácia, que sempre joga igual e não vai mudar agora. Não é nem ofensiva e nem defensiva: a Croácia joga bem. Esperamos um jogo muito complicado", comentou o treinador.
Nada é tão complicado quando se tem quem desate nós táticos. O camisa 10 Lionel Messi é o cara da Argentina na Copa com quatro gols e duas assistências. Se fizer um gol, hoje, o jogador eleito sete vezes melhor do mundo deixará o recordista Gabriel Batistuta para trás e se isolar como maior goleador da Argentina na história da Copa. Além disso, alcançará o colega de Paris Saint-Germain Mbappé na artilharia e agitará a possível final entre eles.
Modric é o destruidor de sonhos. Exterminou o Japão nas oitavas de final e determinou o ritmo da partida contra o Brasil nas quartas de final. Aos 37 anos, engoliu o meio de campo comandado por Tite. O melhor do mundo em 2018 brilha sem ter feito gol nem assistência. Voluntarioso, joga nada para ele — e tudo pelos companheiros. "Temos o melhor meio de campo do mundo", gabou-se o treinador depois da vitória contra o Brasil.