DOCUMENTÁRIO: Filme 'Uýra' mostra a luta da artista e bióloga trans indígena para preservar a floresta amazônica

Uýra luta pela preservação do meio ambiente e pelos direitos das comunidades indígenas e ribeirinhas

DOCUMENTÁRIO:  Filme 'Uýra' mostra a luta da artista e bióloga trans indígena para preservar a floresta amazônica

Foto: Divulgação

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Premiado em festivais como Frameline e Outfest, ambos nos Estados Unidos, o documentário brasileiro Uýra – A Retomada da Floresta, acompanha a trajetória de Uýra, entidade híbrida amazônica vivida pela artista trans indígena e bióloga Emerson Pontes, e sua luta pela preservação do meio ambiente e pelos direitos das comunidades indígenas e ribeirinhas. No texto abaixo, publicado com exclusividade pelo Mulher no Cinema, a diretora Juliana Curi e a corroteirista Martina Sönksen falam sobre os bastidores do filme e seu processo coletivo de criação.

 

Juliana e Martina assinam o roteiro do documentário em parceria com Uýra. 

 

Quando nos deparamos com a arte de Uýra, fomos tomadas pela potência dos cruzamentos criados por sua interseccionalidade. Ela tem a capacidade de despertar, nos grupos de diversas lutas sociais, o entendimento de que na essência de todas essas lutas está a conservação da vida. Diante de uma emergência climática sem precedentes, o filme nos aponta um caminho possível de reconexão com a Floresta, apontando que as soluções para uma justiça climática passam por diálogos coletivos.

 

Com essa noção em mente, Uýra, além de ser protagonista do filme, assina a co-produção e o argumento, e suas performances foram criadas exclusivamente para a obra.



O filme nasceu desse processo coletivo de co-criação horizontal, e acreditamos que, por somar tantas vozes e subjetividades de diferentes campos, pudemos construir uma obra de forte impacto político e artístico.

 

 

Após um processo de longas conversas com a Uýra, em janeiro de 2020 sentimos que essa história não podia esperar para ser contada. Portanto, fomos a Manaus e passamos 22 dias com ela e os outros personagens do filme, filmando em Nossa Senhora de Fátima, em Manaus; em Três Unidos, no Rio Cuieiras; na aldeia do povo Kambeba e nos afluentes do Rio Negro.

 

Pouco mais de um mês depois de retornarmos das filmagens, o mundo anunciou a pandemia. Nesse processo, com cada uma em sua casa, nós (Juliana e Martina, ao lado de Lívia Cheibub e João Henrique Kurtz, também produtores do filme) fomos compreendendo como seguir com a pós-produção. A cada novo talento que fomos somando à equipe – de diversas regiões do Brasil e da América Latina, com diversos campos de estudos complementares -, o filme foi ganhando camadas de profundidades e subjetividades que o deixavam cada vez mais próximo da potência que a história de Uýra pedia.

 


 

Com a equipe já envolvida e movida pela história de Uýra, fomos construindo um processo de trabalho que visava um filme capaz de diversificar a construção de narrativas sobre justiça climática.

 

Portanto, apesar de apostarmos numa estrutura de roteiro tradicional de três atos, nos baseamos num fio condutor emocional, sensorial e, sobretudo, poético. Desta forma, Uýra convida o público para viver essa jornada não-linear e, por meio da metáfora ecológica, aprender técnicas de agrupamento e luta coletiva espelhadas nos movimentos naturais das plantas na Floresta.

 

Para a construção visual, o material que tínhamos captado nos possibilitava um rompimento da linha que divide documentário e ficção e da linha que divide filmes de arte e filmes sociais. Além disso, todo o trabalho de desenho de som e trilha foram essenciais para a criação dessa atmosfera da floresta que vai tomando a mente e os corações do público, transportando-os para um lugar onde o espaço e o tempo são outros.

 

 

Neste momento, fomos contemplados com o edital Climate Story Unit, do Doc Society, ao lado de outros sete projetos, entre eles O Território, de Alex Pritz, Txai Suruí e Gabriel Ushida. Além de finalizar o filme, iniciamos um processo de desenho de distribuição de impacto na Amazônia, usando o filme de forma educacional junto a jovens indígenas e ribeirinhos que lutam por justiça climática. Além de democratizar o acesso ao cinema para locais que não possuem salas, buscamos promover oficinas de maquiagem com a Uýra – como a “Oficina Morfoses” retratada no filme -, e organizar uma oficina chamada “Audiovisual como Ferramenta de Ativismo Ambiental e Comunicação”, ministrada pela a cineasta Flávia Abtibol.

 

Depois de finalizado, o filme teve sua estreia mundial no Frameline, em São Francisco, e seguiu para mais de duas dezenas de festivais internacionais. No momento, soma sete prêmios. Estamos agora na competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, com duas exibições. Seguindo o pensamento de Uýra de que o filme é um convite ao diálogo, chegamos ao Brasil movidas a levá-lo para diversas regiões do país, para que possamos reconhecer as fraturas sociais da nossa sociedade e elaborar, juntos, alternativas coletivas para um novo futuro, diverso e ancestral.

 

Juliana Curi é diretora e artista visual. Assinou as exposições Pink Intervention (Galeria Spotte Art NY, Artsy) e A Batalha do Corpo (Centro Cultural São Paulo) e é fundadora do projeto de inclusão audiovisual EUETU Lab. Fez direção, roteiro e produção do longa-metragem Uýra – A Retomada da Floresta.

 

Martina Sönksen é roteirista e realizadora audiovisual. Na televisão, criou, roteirizou e codirigiu a série Sobrepostas (2021), exibida pelo Canal Brasil e pela Globoplay. No cinema, assina o roteiro e a produção do longa-metragem Uýra – A Retomada da Floresta. 

 

AUTOR: MULHER NO CINEMA

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