ALMANAQUE 25 - Altas Horas, DVDs, Nelson Rodrigues e Orlando Silva

*Por: Humberto Oliveira *- *Foto/legenda: O cantor Orlando Silva *- *EDITORIAL *O escritor Luiz Albuquerque é um valente. Isso mesmo. Mas não valente no sentido de brigão ou arruaceiro. Nada disso. O adjetivo usado aqui é para definir sua coragem de expor sua arte de forma tão original e ao mesmo tempo direta, objetiva e imediata no gostoso “Leitura de Ônibus”. *Pena que somente os usuários dos ônibus coletivos que circulam em Porto Velho poderão saber do que me refiro. Ou talvez não, devido ao grande alcance desta inventiva iniciativa deste escritor independente que escreve, edita, publica e distribui para os passageiros, gratuitamente o seu jornal “Leitura de Ônibus”, leitura que pode durar apenas uma viagem, mas uma coisa é certa, nunca vi nenhum exemplar jogado pelo chão. Nada disso. As pessoas lêem e guardam. Isso mostra que se o povo tivesse condições com certeza leria mais. *A iniciativa do caro autor tem a pretensão de levar um pouco de leitura e informação aos passageiros. Gesto louvável. Parabéns ao amigo Luiz Albuquerque que munido de boa vontade criativa leva um pouco de leitura para nosso povo tão carente de tudo, inclusive de cultura. *Enquanto isso no programa Altas Horas “vida inteligente na madrugada” segundo dizem nas chamadas do programa comandado por Sérgio Grossman e transmitido pela emissora global. *No programa do último sábado ele recebeu a comediante Maria Paula, integrante do Casseta e planeta que ali estava para divulgar o novo filme Seus problemas acabaram; o grupo Rádio Táxi e ainda o jornalista Marcos Losekan, que com aquele ar de quem tem síndrome de “Clark Kent” (para quem não sabe, Clark Kent é jornalista do Planeta Diário e o alter-ego do Super-Homem), pois é, o moço estava ali para falar de suas experiências como correspondente de guerra, os apuros que viveu, etc. Tudo pontuado por sua habitual falta de humildade (Caco Barcelos também foi correspondente de guerra, escreveu livros, mas em suas entrevistas demonstra sempre ser um profissional de primeira, mas humilde). *O jornalista aproveitou para vender o seu peixe, ou seja, o lançamento do seu novo livro, que segundo ele “cansado da realidade, agora quer fazer ficção”. Tudo bem, mas ele encher a boca para dizer que o livro faz parte de uma trilogia (que o apresentador logo chamou de “O senhor dos anéis brasileiro”). O primeiro volume intitulado Dossiê Iscariotes e cuja trama se passa no período do assassinato de Chico Mendes. Losekan afirmou que os dois outros volumes estão prontos e serão lançados em breve. *O segundo livro intitulado Mistério do salão verde e tem como pano de fundo a queda do presidente Fernando Collor de Mello e o último livro, talvez com o título mais pretensioso de todos – Entre a cruz e a suástica que tem como pano de fundo o assassinato de Paulo César Farias. *Agora falando sério – É ou não, um pretensioso? Quem quiser pode conferir lendo a trilogia. A falta de humildade do jornalista salta aos olhos e aos ouvidos. Impossível não se incomodar com tanta pretensão deste jornalista que se diz cansado da realidade, mola mestra que move o dia a dia de qualquer jornalista, seja do Alto Madeira ou do Estado de São Paulo, seja da Rede TV ou da Rede Globo. Vamos ser mais humildes. Sigamos o exemplo de Luiz Albuquerque o humilde autor que inventou a “leitura de ônibus”. *DVD *LADRÕES DE BICICLETA – EDIÇÃO ESPECIAL *Um dos maiores clássicos do Neo-Realismo italiano, Ladrões de Bicicleta (1948) de Vittorio De Sica acaba de ser lançado em dvd em edição especial pela Versátil. Depois do filme o grande atrativo do lançamento é o documentário sobre o diretor – Vittorio De Sica, assim é a vida. *Ladrões de Bicicleta tem conquistado sucessivas gerações de cinéfilos, com sua história humanista e universal e conquistou não apenas o público, mas a crítica. Em 1949 ganhou um Oscar honorário, o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, Prêmio de melhor filme estrangeiro pelo Círculo dos Críticos de Nova York e ainda prêmio da Academia Britânica de melhor filme estrangeiro. *Ladrões de Bicicleta, um item valioso para coleção dos verdadeiros cinéfilos. *DVD MINISSÉRIE JK *Há muito tempo que uma minissérie global não fazia tanto sucesso quanto fez esta JK, que acaba de ser lançada em dvd. A caixa vem com cinco discos numa edição especialmente editada para o formato digital. JK é uma superprodução que parte da biografia real de um dos políticos mais carismáticos do Brasil, relatando ao telespectador momentos históricos que marcaram intensamente o país. *Assinada por Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, JK teve direção de Dennis Carvalho (Anos Dourados) e grande elenco com destaque para Wagner Moura, que mostra o quanto é ótimo ator. Outro grande destaque é a trilha sonora, lançada em cd na época da exibição da minissérie na tv. *A caixa traz extras excelentes - Making of exclusivo: os bastidores da minissérie do momento de sua criação à realização das gravações, entrevistas e cenas inéditas. *DVD CRASH – NO LIMITE (EDIÇÃO ESPECIAL COM DOIS DVS) *Crash foi a produção vencedora de três Oscar este ano – Melhor filme, roteiro original e edição. O filme dirigido pelo estreante Paul Haggis (vencedor do Oscar de melhor roteiro por Menina de Ouro no ano passado) é um retrato cruel e verdadeiro sobre as questões raciais na América contemporânea. No filme, todos vêem suas vidas colidindo após uma série de eventos inevitáveis, no período de 36 horas, com conseqüências surpreendentes. *Apesar do elenco repleto de estrelas como Sandra Bullock, Brendon Fraser e Matt Dillon, todos estão muito bem interpretando personagens nada habituais em suas carreiras. *Crash – no limite sai em edição especial com dois dvds recheados de extras. *LIVROS *A SEGUNDA GUERRA NO CINEMA *O cinema, desde o início dos combates e antes de qualquer outra manifestação artística, dedicou atenção para retratar, às vezes de forma realística, às vezes de forma alegórica, mas sempre buscando mostrar ao espectador toda crueza e inutilidade da guerra. *O escritor de cinema Guido Bilharinho, autor de nove livros sobre cinema depois de escrever sobre os clássicos do cinema mudo, o cinema brasileiro dos anos 80 e 90, de contar tudo sobre os cem anos da história do cinema brasileiro e mundial, de escrever também sobre o gênero western, acaba de lançar pelo Instituto Triangulino, habitual editora de seus livros de ensaios, o sensacional A segunda guerra no cinema, que desde agora deve constar na prateleira da biblioteca dos amantes da sétima arte e da boa leitura. *Guido escreve sobre mais de cinqüenta desses filmes e comenta-os em ensaios com seu texto saboroso, sua pesquisa profunda e bem feita que são característica deste autor que merece figurar entre os maiores nomes da nossa crítica cinematográfica. *A VIDA COMO ELA É *Atenção fãs de Nelson Rodrigues. A Editora Agir disponibilizou a reedição do clássico A vida como ela é, que estava esgotado há mais de quarenta anos. *Agora os contos desta coluna que Nelson Rodrigues escreveu para o jornal Última Hora nos anos 50 estão de volta. *Em pouco tempo a coluna era um sucesso popular. Como o melhor jornalismo, falava direto ao público; como a literatura mais sofisticada, fazia tremer suas convicções. Por seu alcance e perenidade, teve várias encenações em mais de 50 anos. Foi programa de rádio nos anos 1960, narrado por Procópio Ferreira e disco, lançado pela Odeon. Foi transformada em fotonovela. Deu origem a um dos grandes sucessos do cinema brasileiro, A dama do lotação. Na década de 90, foi grande sucesso no teatro, em encenação premiada de Luiz Arthur Nunes e chegou ao horário nobre na fidelíssima adaptação dirigida por Daniel Filho. *Item de colecionador, disputado em sebos, os dois volumes originais dos Cem contos escolhidos - A vida como ela é, voltam às livrarias, em volume único, exatos 45 anos depois de sua primeira e última edição. E nada melhor do que Nelson Rodrigues escolhido por Nelson Rodrigues para iniciar, na Agir, a publicação de suas obras em prosa. *O livro A vida com o ela é pode ser encontrado na livraria Sodiler com preço promocional R$ 30,90. O preço está ótimo. Se você quiser conferir pesquise na Siciliano, Cultura, Saraiva e até no site das lojas Americanas. Mas o melhor preço está na Sodiler. *CD *ORLANDO SILVA *Para os mais jovens, Orlando Silva não passa de peça de museu, mas para os mais velhos, ele sempre será um dos maiores interpretes da nossa música em todos os tempos, superando Francisco Alves, “o Rei da Voz”, Silvio Caldas, o “Caboclinho querido” e até mesmo Nelson Gonçalves, que o imitava no começo da carreira. Nada de estranho nisso, pois o próprio Orlando Silva começou imitando seu ídolo, Francisco Alves, que ao ouvir cantar, sem receio da concorrência, logo o levou para gravar. O “Rei da Voz” acertou na mosca. Orlando Silva se tornaria o “Cantor das multidões” e para muitos a criatura superaria o criador. *Orlando Silva teve seu auge entre 1935 e 1942 quando subitamente sua voz nunca mais seria a mesma. No entanto esse período de ouro de sua carreira está registrada para sempre em disco, mais precisamente na coleção O Cantor das Multidões lançada em 1995 pela BMG. A caixa com três cds, que valem ouro,, trazem gravações originais de clássicos eternos como Nada além, Caprichos do destino, Juramento falso, Rosa, Alegria, Sertaneja, Errei, erramos, Meu romance e muito mais. São 66 faixas que mostram em cada interpretação o talento insuperável deste interprete perfeito. *O selo Revivendo também traz uma coleção que mostra toda a importância do extenso trabalho do grande cantor presente nesta caixa intitulado No tempo do rádio com 4 CDs que trazem Orlando Silva em interpretações antológicas, clássicas e inesquecíveis. *Orlando Silva faleceu no Rio de Janeiro em 07 de agosto de 1978. E para conhecer a história deste monstro sagrado da nossa música os caros leitores têm pelo menos cinco ótimas opções de leitura. *Uma delas é o encarte que faz parte da coleção O Cantor das multidões citada acima intitulada Caprichos do destino escrita por ninguém menos que Ruy Castro. Um fã confesso de Orlando Silva. *Outra opção é o extraordinário relato de Jonas Vieira em Orlando Silva, o cantor das multidões publicado pela Funarte em 1985 assim como Nada além – a vida de Orlando Silva escrita por Jorge Aguiar e editada pela Editora Globo em 1995. *Indico ainda O livro de ouro da MPB – A História de nossa música popular de sua origem até hoje, escrita por Ricardo Cravo Albin para Ediouro em 2003 e por fim, A canção no tempo, volume I escrito a quatro mãos por Zuza Homem de Mello e Jairo Severiano, dois especialistas em música popular brasileira. A canção no tempo foi lançada em dois volumes que fazem parte da Coleção Todos os cantos da Editora 34. *A coluna desta semana é dedicada ao escritor de cinema Guido Bilharinho *A Coluna Almanaque desta semana fica por aqui. Na próxima semana voltaremos com mais dicas e novidades. Um abraço cordial e até lá. *Humberto Oliveira é bacharel em jornalismo e ainda menino assistiu escondido vários shows de Orlando Silva na sua fase áurea.