Depois de ser agraciado com a Palma de Ouro de Melhor Filme para Táxi Driver
em 1976, o cineasta Martin Scorsese cairia numa depressão profunda que, quase o faz abandonar o cinema...
Por: Humberto Oliveira
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*Depois de ser agraciado com a Palma de Ouro de Melhor Filme para Táxi Driver
em 1976, o cineasta Martin Scorsese cairia numa depressão profunda que,
quase o faz abandonar o cinema, no entanto isso não o impediu, quatro anos
depois, de se envolver com outra produção controversa e, porque não dizer,
conturbada. Estamos falando de Touro Indomável (Raging Bull, 1980), que
mesmo não sendo um sucesso de público, conquistou a crítica e acabaria por
ser eleito o melhor filme dos anos oitenta, o quê, diga-se de passagem, não
é pouco.
*Com roteiro de Paul Schrader e Mardik Martin, a partir da autobiografia do
pugilista peso-médio Jake La Motta, Touro Indomável, tem na interpretação de
Robert De Niro, que engordou quase trinta quilos para mostrar a decadência
física do personagem, um dos pontos altos do filme, que acompanha da
ascensão a decadência do pugilista, mostrada numa elaborada fotografia em
preto e branco de Michael Chapman. Na época das filmagens, Scorsese
justificou que o próprio Jake La Motta dissera, que sua vida só poderia ser
retrata em um filme preto e branco.
*O Touro Indomável, pode ser visto como espécie de parábola sobre a
trajetória de homem animalizado pela brutalidade dos ringues e pelos revezes
da vida – tudo em Jake La Motta, que ficou conhecido como "O Touro do Bronx",
é excessivo, principalmente na visão de Scorsese: o ciúme que sente pela
segunda mulher, Vickie, ciúme que pouco a pouco se transforma em obsessão,
levando-o a agredir sucessivamente, não apenas a esposa, mas o irmão Joey, o
que provoca o rompimento entre os dois.
*O filme começa mostrando De Niro, inchado, quase irreconhecível, como Jake
La Motta em 1964, frente a uma espelho, ensaiando para sua apresentação no
palco de uma boate onde conta piadas e recita textos clássicos. Em seguida,
a trama volta no tempo, para 1947, quando La Motta, jovem e em forma, está
no início de sua carreira como pugilista, lutando para se tornar campeão dos
pesos-médios. Em 1949 vence o francês Marcel Cerdan, mas dois anos depois
perderia o título para “Sugar” Ray Robinson. A partir daí, engorda, abandona
os ringues, é preso por sedução de uma menor de 14 anos e termina seus dias
como showman em clubes noturnos.
*O filme recebeu oito indicações vencendo apenas em duas categorias: Melhor
Ator para De Niro, que ganhou seu segundo Oscar, sendo o primeiro de
Coadjuvante por sua interpretação do jovem Vito Corleone em O Poderoso
Chefão II. O filme levou também o Oscar de Melhor Montagem para Thelma
Schoonmaker, habitual colaboradora de Scorsese. Destaques ainda para Joe
Pesci, que interpreta o Joey, irmão de La Motta, e a então estreante Cathy
Moriarty como Vickie, a segunda esposa de Jake. Curiosamente, Joe Pesci
viria a ganhar o Oscar de Melhor Coadjuvante pelo filme Os Bons
Companheiros, dirigido por Scorsese e tendo como parceiro, De Niro e Ray
Lyotta.
*Quem acompanha a carreira de Martin Scorsese, sabe que desde Táxi Driver e
Touro Indomável, que ele merece levar seu Oscar de Melhor Diretor para casa,
no entanto, parece que Hollywood, neste caso, age de má vontade sempre
protelando sua premiação. Scorsese, nas duas últimas edições do Oscar,
concorreu por Gangues de Nova York e O Aviador, e perdeu pelos dois.
*Mas não devemos julgar ou analisar sua obra pelo prisma dos membros da
Academia, e sim pela qualidade de seus filmes, pois, Martin Scorsese, um dos
maiores cineastas em atividade, supera gênios como Francis Ford Coppola,
Steven Spielberg, Brian de Palma, este, assim como Scorsese, ainda não teve
a oportunidade de ter nas mãos a tão cobiçada estatueta prateada.
*Apesar de Scorsese ser sempre preterido pela Academia, seus filmes estão
cada vez mais sendo lançados no formato digital, portanto os fãs têm um
ótimo motivo de alegria. Fora a caixa com as produções Alice não mora mais
aqui, Caminhos perigosos, Depois de Horas e o obscuro Quem está batendo em
nossa porta, foram disponibilizados outros títulos como: Os Bons
Companheiros e Cassino, ambos em edição com dois dvds, Cabo do Medo, Época
da Inocência, Kundun, A última tentação de Cristo, os mais recentes, Gangues
de Nova York, O Aviador, e o documentário sobre Bob Dylan.
*Agora para comemorar os vinte e cinco anos de Touro Indomável foi lançado no
final de 2005, o dvd do filme, remasterizado numa edição especial com dois
discos com muitos extras: mini-documentários sobre a pré-produção, produção,
bastidores, entrevistas com Roberto De Niro e Jake La Motta, comparação de
cenas do filme com cenas reais, trailer de cinema e galeria de fotos. Tudo
devidamente legendado em português. Faltaram apenas às faixas de comentários
com o diretor, elenco e equipe.
*HumbertOliveira é bacharel em jornalismo, cinéfilo e dvdmaníaco