Israel e o grupo palestino Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza nesta quarta-feira. Uma fonte do governo israelense confirmou o acordo ao jornal Times of Israel.
O texto também foi aprovado pelo Hamas, anunciaram fontes próximas às negociações que acontecem no Catar, com o objetivo de pôr fim aos 15 meses de massacre israelese, que deixou mais de 46 mil palestinos mortos.
O movimento palestino e seu aliado Jihad Islâmica aprovaram um acordo que envolvetroca de reféns e prisioneiros, disseram duas fontes palestinas próximas às negociações em Doha nesta quarta-feira.
A poucos dias do retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca, as negociações indiretas foram intensificadas para estabelecer uma trégua que inclua a libertação dos reféns que permanecem em território palestino desde o ataque do Hamas contra o território israelense em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, saudou o acordo nesta quarta-feira (15).
“Temos um acordo para os reféns no Oriente Médio. Serão libertados em breve. Obrigado!” disse na sua rede social Truth, antes de haver qualquer anúncio oficial por parte da Casa Branca.
Os presidentes de Estados Unidos, Joe Biden, e Egito, Abdel Fatah al Sissi, pediram na terça-feira que todas as partes mostrassem "a flexibilidade necessária" para alcançar a trégua.
O que prevê o acordo?
A primeira fase do acordo de cessar-fogo prevê a libertação de 33 reféns em troca de mil palestinos detidos por Israel. Eles seriam libertados "em grupos, começando com crianças e mulheres", segundo fontes próximas ao Hamas.
O governo israelense confirmou que Israel está buscando a libertação de "33 reféns" durante esta etapa inicial e que está preparado para libertar "centenas" de prisioneiros palestinos.
A segunda fase, que começaria no 16º dia após o início da trégua, envolveria a libertação dos últimos reféns, "soldados do sexo masculino, homens em idade militar e os corpos dos reféns assassinados", de acordo com o jornal Times of Israel.
O acordo é um aceno por uma trégua no conflito, desencadeado após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Na ocasião, 1.210 israelenses foram mortos e 251 sequestrados, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais.
Dos sequestrados, 97 permanecem em cativeiro em Gaza, mas o Exército israelense estima que 34 deles foram mortos. De acordo com o Hamas, os reféns israelenses foram mortos pelos próprios bombardeios de Tel Aviv contra o enclave palestino.
Após o ataque, Israel passou a promover um genocídio na Faixa de Gaza, vitimando pelo menos 46.707 pessoas, a maioria civis, entre eles mulheres e crianças, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, que a ONU considera confiáveis.
Uma autoridade israelense afirmou, na terça-feira, que Israel não sairia de Gaza "enquanto todos os reféns não retornassem, os vivos e os mortos". Para além da questão dos reféns, a imprensa israelense veiculou que Tel Aviv poderia manter uma "zona de contenção" de norte a sul da Faixa de Gaza durante a primeira fase da trégua.
Em detalhes maiores, essa zona iria em direção ao sul, até Rafah, na fronteira com o Egito, e até Beit Hanun, no norte de Gaza. As forças israelenses no enclave permitiram que civis palestinos saíssem do sul em direção ao norte da Faixa.
Já o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, propôs o envio de uma força de segurança internacional para Gaza e a colocação do território sob a responsabilidade da ONU.
Os principais pontos de divergêcia foram em relação ao tempo de duração da trégua, entrega de ajuda humanitária e logística para os civis retornarem às suas casas. A retirada total das Forças de Defesa Israelenses (IDF) do enclave já foi rejeitada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que também se opôs a qualquer papel do Hamas no futuro governo de Gaza.
Enquanto os mediadores discutiam o acordo de trégua, Israel intensificou seu bombardeio em Gaza, sob o pretexto de que está alvejando os combatentes do Hamas.
Na madrugada desta quarta, 24 pessoas foram mortas, segundo socorristas, sobretudo em Deir al Balah, no centro do território, e na Cidade de Gaza, no norte, onde um bombardeio atingiu uma escola na qual deslocados estavam abrigados.
Desde o início da guerra, apenas uma trégua foi estabelecida, por um período de uma semana, no final de novembro de 2023.
Defesa do Estado palestino
Nesse contexto, o primeiro-ministro palestino, Mohammed Mustafa, defendeu a pressão internacional sobre Israel, para garantir a criação do Estado Palestino após a confirmação do acordo de cessar-fogo.
É preciso “mostrar a Israel o que está certo e o que está errado, e que o poder de veto sobre a paz e o estatuto de Estado para os palestinos não será mais aceito e tolerado”, disse Mustafa aos jornalistas após uma reunião com o primeiro-ministro norueguês Jonas Gahr Store.
A reunião aconteceu no contexo da terceira reunião da Aliança Global para a Implementação da Solução de Dois Estados para o Conflito Israel-Palestinia, que reúne representantes de cerca de 80 Estados e organizações na capital norueguesa Oslo.
“O cessar-fogo de que falamos... surgiu principalmente devido à pressão internacional. Por isso, a pressão compensa”. O cessar-fogo é “necessário, mas não suficiente”, disse Mustafa.
“Precisamos de um cessar-fogo para começar a fazer outras coisas”, disse, acrescentando que as tréguas deveriam conduzir a uma maior segurança, à abertura de mais postos fronteiriços em Gaza e a mais assistência humanitária.
O ministro norueguês dos Negócios Estrangeiros, Espen Barth Eide, anfitrião da reunião de quarta-feira, sublinhou que “o cessar-fogo é a condição prévia para a paz, mas não é a paz”. “Precisamos de avançar agora para uma solução de dois Estados. E uma vez que um dos dois Estados existe, que é Israel, precisamos de construir o outro Estado, que é a Palestina”, acrescentou.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, apoiado firmemente pelo Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, opõe-se à criação de um Estado palestino.
A Noruega juntamente com a Espanha e a Irlanda, reconheceram o Estado Palestino em maio passado, uma medida que foi seguida pela Eslovénia.
Numa alusão à história, a reunião de quarta-feira teve lugar na Câmara Municipal de Oslo, onde Yasser Arafat, Yitzhak Rabin e Shimon Peres receberam o Prémio Nobel da Paz em 1994.
O então líder da Organização de Libertação da Palestina, o primeiro-ministro israelense e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros foram homenageados pela assinatura dos Acordos de Oslo um ano antes, que lançaram as bases para a autonomia palestiniana com o objetivo de um Estado independente.