As doenças no sistema respiratório tiveram aumento de 1,3% para casos de contato durante o mesmo período, e no sistema nervoso, 0,2%, quando se considera o terceiro trimestre. As regiões mais afetadas pelo impacto das queimadas na malformação congênita de bebês foram Norte, Sul e Centro-Oeste.
Segundo Réquia, esses três fatores - prematuridade, baixo peso e malformação - são alguns dos indicadores para categorizar um nascimento saudável. Além disso, o professor destaca ainda que os três primeiros meses de gravidez são fundamentais para a saúde do bebê, pois é o momento crucial de sua formação.
Os efeitos das temporadas de queimadas são mais nocivos à saúde do que o ar que se respira em São Paulo, a maior metrópole do Brasil, atesta o professor da USP Paulo Saldiva. Eles não se restringem às crianças e recém-nascidos. Estudo publicado em dezembro na revista Nature, feito pelo médico e pesquisador brasileiro, mostra as consequências do problema para a população em geral.
Para avaliar os riscos de mortalidade e os problemas associados à exposição de curto prazo a partículas resultantes de incêndios florestais, o pesquisador coletou dados de mortalidade entre 2000 e 2016, para 510 regiões do País mais propensas a incêndios florestais. Os resultados apontaram um aumento de 3,1% nas mortes por todas as causas, 2,6% na mortalidade cardiovascular e 7,7% nas causadas por doenças respiratórias.
O estudo encontrou associações mais fortes em mulheres e adultos com idades acima de 60 anos e diferenças geográficas nos riscos de mortalidade.
"O aumento da mortalidade estimada entre 2000 e 2016, por todas as causas, foi de 121 mil pessoas, mais de 29 mil por doenças cardiovasculares e 31 mil por causas respiratórias", analisa Saldiva. "A poluição é um risco para qualquer um, não há defesas individuais. Você pode se afastar de um local em que se fuma, mas não da poluição."
Na Amazônia, as emissões de queimadas são maiores em anos com maiores taxas de desmatamento e o período abordado abrangeu os anos de 2005, 2007 e 2010, marcados por secas severas em que as emissões de incêndios aumentaram de 1,5 a 2,8 vezes em comparação com anos sem seca.
O que a inalação provoca?
O vilão desse processo chama-se material particulado fino (PM2,5) , resultante das queimadas. Com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros, ou 2,5 milésimos de milímetros, as partículas são carregadas pelo vento, inaladas pelos seres humanos e carregadas para a corrente sanguínea.
A presença dessas partículas na corrente de gestantes, por exemplo, pode levar ao estresse oxidativo, inflamação pulmonar e da circulação placentária. Estudos indicam que isso pode diminuir a troca de nutrientes e oxigênio através da placenta, resultar em desenvolvimento fetal adverso e aumento do risco de parto prematuro. Pesquisa recente mostrou que em incêndios florestais, o material particulado é mais tóxico do que em doses iguais de outras fontes de poluição.