Crise na Venezuela leva mais mulheres a prostíbulos

Mulheres como Juana, de 50 anos, passaram a vender os próprios corpos para alimentar as famílias

Crise na Venezuela leva mais mulheres a prostíbulos

Foto: Reuters

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A queda dos preços de petróleo, fonte principal de rendimento para o país (96%), causou dívida externa de US$ 150 milhões para Venezuela. Nos fim das contas, os mais afetados são as famílias numerosas.

 

O hotel de três andares na parte ocidental de Caracas virou casa para Juana, prostituta de 50 anos, que junto com sua filha, de 30 anos, trabalha no prostíbulo da capital venezuelana. Ambos encontraram salvação nesta profissão para sobreviver à crise, que vem atingindo todo o país nos últimos anos.

 

No hotel decadente marcado pelo cheiro de fumaça de cigarros, Juana, bem como outras famílias parecidas, vive em um pequeno quarto com netos, filha e namorado. A família dispõe de uma cama de casal e pequeno fogão de duas bocas.

 

6 dias por semana

 

De segunda a sábado, aproximadamente às 19h, um táxi leva Juana e a filha para um prostíbulo, onde elas trabalham a partir das 20h. As mulheres se preparam para um plantão de 7 horas. Se conseguirem seduzir o cliente, cada uma recebe 100.000 bolívares (cerca de US$ 1, ou R$ 3,2, no mercado negro, que regula maioria dos negócios).

 

Em uma semana "lucrativa", elas podem ganhar de 4 a 5 dólares (R$ 12,9 — 16,1). As mulheres asseguram não ser suficiente para comer e sustentar a família, mesmo este dinheiro sendo maior do que salário mínimo. Em 31 de dezembro, o presidente do país, Nicolás Maduro, declarou aumento do salário mínimo para 797.510 bolívares (US$ 8, ou R$ 25,8).

 

Levando em consideração os gastos (aluguel, táxi), Juana e Juanita confessam que comer carne ou frango é um grande luxo. Em uma semana "lucrativa", elas podem ganhar de 4 a 5 dólares (R$ 12,9 — 16,1).

 

As mulheres asseguram não ser suficiente para comer e sustentar a família, mesmo este dinheiro sendo maior do que salário mínimo. Em 31 de dezembro, o presidente Nicolás Maduro declarou aumento do salário mínimo para 797.510 bolívares (US$ 8, ou R$ 25,8). Levando em consideração os gastos (aluguel, táxi), Juana e Juanita confessam que comer carne ou frango é um grande luxo. 

 

 

 

Juanita tem cinco filhos, mas apenas dois deles vivem com sua mãe, outros três estão com avó paterna que conseguiu tutela das crianças ao saber da profissão de Juanita. A interdição não permite que Juanita fale ou se encontre com os filhos.

 

"Falando francamente, eu me sinto muito mal, porque o que eu mais queria era ficar junto com meus três filhos, que foram tirados de mim pela a avó paterna deles aos saber que eu trabalho no prostíbulo. Ela me processou. Foi horrível. Ela fez tudo para tirar meus filhos de mim, é muito penoso", acrescentou.

 

No início da crise, o pai destes três filhos deixou o país e partiu para República Dominicana prometendo ajudar as crianças enviando dinheiro, mas nunca mais apareceu ou entrou em contato.

 

Hoje em dia, Juanita leva vida dupla. Ela explica que decidiu viver maior parte da semana em outro hotel para que seus outros dois filhos não saibam o que ela faz, porque ela tem medo de perdê-los também.

 

Inflação sem precedentes

 

Com a queda dos preços de petróleo, iniciou-se o déficit de comida e o custo de vida passou a crescer. Juana contou à Sputnik Mundo que no final de 2015 tomou a decisão de deixar profissão de administradora em um salão de beleza para trabalhar em um prostíbulo. A mulher ficou desempregada enquanto sua filha, abandonada pelo marido tinha que sustentar a família. Tudo aconteceu no momento em que Venezuela começou a sentir as consequências de diminuição das entradas de moedas estrangeiras. Em 2015, o Banco Central da Venezuela publicou o nível da inflação de 180,9%, depois a economia só continuou caindo.

 

Juanita, por sua vez, ao ver que sua mãe precisava de ajuda, decidiu começar a trabalhar no mesmo lugar. "Entendi que estou conseguindo. Decidi trabalhar lá. Pelo menos meus filhos não dormem com fome", explicou.

 

Prostituição na Venezuela

 

Neste país sul-americano não há instrumentos jurídicos que proíbam ou permitam a prostituição.A lei constitucional sobre direitos das mulheres para vida sem violência prevê punição de 20 anos de prisão apenas para aqueles que traficam pessoas. 

 

O Ministério da Saúde também não dispõe de estatísticas quanto à prostituição e mulheres que trabalham neste ramo afirmam que se sentem desprotegidas. De acordo com policiais que trabalham na capital venezuelana e que pediram anonimato, no centro de Caracas há mais de 40 prostíbulos de várias categorias.

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