Delegado afastado vê elo entre jovem violentada e tráfico

Delegado afastado vê elo entre jovem violentada e tráfico

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Foto: Divulgação

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O delegado Alessandro Thiers, o primeiro a investigar o estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos no Rio, afirmou na quarta-feira, 8, que o primeiro vídeo divulgado sobre o caso, em que a jovem aparece nua, desacordada, ao lado de homens que mexem em sua genitália, não caracteriza estupro. 

Afastado do inquérito sob a acusação de ter constrangido a vítima ao tomar seu depoimento, ele disse que o envolvimento da jovem com o tráfico deve ser apurado pela polícia, pois ela afirmou ser amiga dos traficantes do Morro da Barão, zona oeste, e de ter participado do preparo de drogas para venda.Thiers, de 41 anos, dirigia a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), da qual foi afastado na terça-feira, 7. A coordenação da investigação já havia passado para a delegacia da Criança e Adolescente Vítima na semana passada.

Como o senhor avalia o resultado das investigações até aqui?
 
O que posso falar é que esse vídeo que foi divulgado, onde o Raphael Bello (um dos acusados presos) aparece com a língua para fora, se você conversar com qualquer especialista em Direito, da área penal, vai ouvir que não houve estupro ali, tecnicamente falando. O dolo ali não foi de satisfazer lascívia sexual.
 
 
Não estou falando que eles não possam ter estuprado antes ou depois. Apenas que entendo que a análise daquele vídeo isoladamente mostra que ocorre o crime de difamação, não de estupro. O “mais de 30 engravidou” (dito por um dos homens) é adaptação do funk Mais de 20 engravidou. Ele tentou denegrir a honra da garota. Do outro vídeo (em que a jovem é violentada e reclama de dor, divulgado posteriormente) eu não tenho conhecimento.
 
Acha que a vítima inventou que foi estuprada?
 
É só vocês raciocinarem: ela já mudou de versão diversas vezes em programas de televisão. Os fatos têm de ser mais bem investigados, para ver se havia realmente 33 pessoas armadas naquela casa e quem seriam elas. Se você olhar melhor o vídeo, você acha que estava tendo conotação sexual? Como mulher, você acha que a pessoa ali teve algum tipo de satisfação sexual ou de achincalhar a garota? A intenção dele era de se autovangloriar, de ser o garanhão da favela. A imagem choca, é de uma garota desacordada, com as partes sexuais avermelhadas. É isso que está sendo investigado. A imprensa colocou como se fosse verdade absoluta. Fiz meu trabalho de forma coerente e imparcial. Agora a polícia vai chegar à verdade dos fatos.
 
O que se passou, de acordo com as investigações iniciais conduzidas pelo senhor?
 
Até onde investiguei, aparentemente não ficou comprovado efetivamente o estupro. A relação que ela teve foi consensual com o Raí de Souza (preso, que mantém essa versão). A história dela tem vários pontos em aberto. Os fatos que ela relatou são graves, ainda mais alegando que foram 33 pessoas. É uma coisa covarde. O comportamento anterior da vítima não foi usado como elementar do tipo penal. Quando a mulher fala “não”, é não. Houve comoção nacional e internacional pela história. A polícia não estava duvidando, mas a gente tem de ser técnico.
 
No estupro, o relato da vítima não deveria ter peso especial?
 
Não posso ouvir a versão de uma pessoa e sair pedindo a prisão de todo mundo. Numa outra vez, ela foi estuprada, o Da Russa (Sérgio Luiz da Silva Junior, chefe do tráfico da favela) ia matar e ela falou: “Não mata”. Ela confirmou que são amigos dela, que já participou da endolação (preparo de drogas). A mãe dela me falou, perguntei e ela confirmou. Tem outro questionamento que até hoje ninguém fez: por que ela não está sendo investigada por associação ao tráfico? Ela sofreu estupro? Pode ser que tenha sofrido. Mas o restante é esquecido? Não pode passar a mão na cabeça.
 
O senhor foi acusado de constranger e criminalizar a vítima. Nega que o tenha feito?
 
Todos os fatos foram gravados e, em um momento oportuno, serão apresentados. Não venham me falar que não tenho experiência pra trabalhar com criança e adolescente, porque já trabalhei na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. As perguntas feitas à adolescente foram porque a mãe comentou que ela tinha amizade com os traficantes. Não teve constrangimento nenhum. Eu era o maior interessado em achar os culpados.
Direito ao esquecimento

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