Trabalho não é desonra

Trabalho não é desonra

Foto: Divulgação

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Muito se tem falado sobre a exploração do trabalho infantil, mas pouco ou quase nada tem sido feito, ao longo de seguidos anos, para mudar essa realidade. O problema, como se sabe, é antigo, tão antigo quanto o Código de Hamurabi, mas ganhou corpo durante a Revolução Industrial.

Terça-feira, 19, a Câmara Municipal de Porto Velho, provocada pelo vereador Márcio Miranda (PSDC), realizou uma Audiência Pública para discutir o assunto e, consequentemente, apontar soluções para o caso.

Políticos, autoridades públicas, representantes de instituições governamentais e não governamentais se revezaram na tribuna, cada um expondo seus pontos de vista de como proceder para extirpar o mal que aflige milhões de pequenos brasileiros.

Infelizmente, muita gente ainda confunde exploração do trabalho infantil (que é algo condenável, sob todos os aspectos), com a necessidade de se conscientizar a criança, desde cedo, de que ela precisa ter responsabilidades, não somente ajudando os pais nos afazeres domésticos, como também fora do ambiente familiar, realizando pequenas tarefas, dentro de suas potencialidades, é claro.

Eu, por exemplo, comecei a trabalhar aos 12 anos, ajudando meu avô materno na roça, realizando pequenas atividades. E, ao contrário do que muitos pensam, conseguia conciliar o trabalho com os estudos e as brincadeiras.

Ada Dantas cresceu ajudando sua mãe na feira. Cansou-se, formou-se e, hoje, ocupa uma cadeira na Câmara Municipal de Porto Velho. E sempre que fala sobre isso se emociona, não consegue conter as lágrimas, como aconteceu na sessão de terça-feira. Orgulha-se da infância que teve. E tem mais e que se orgulhar, mesmo, vereadora! Trabalho não é desonra. As dificuldades, como ela mesma costuma realçar, ajudaram-na a moldar o seu caráter.

Se os nossos governantes quisessem realmente erradicar a exploração do trabalho infantil, bastariam investir pesado em educação. Alguém já disse que uma Nação próspera se constrói a partir da educação de seu povo. Isso é a pura verdade. Correia do Sul, Finlândia, Suécia e Japão, são países que servem de modelo não somente para a educação brasileira, que se acha na vala comum, com falta de verbas, planejamento e condições mínimas para o bom funcionamento das instituições educacionais, mas para o mundo.

A política educacional abraçada pelo governo da República dos mensaleiros, propineiros e cuequeiros reduziu a formação básica da população a uma piada, principalmente quando deixa pipocar greves pela incapacidade de implantar uma política salarial decente e melhores condições de trabalho para os profissionais do setor.

Não é à toa que muitos veem o professor como um coitadinho, um profissional resignado, uma pessoa que faz um bico aqui, outro ali, outro acolá, para sobreviver. Governantes irresponsáveis estimulam a malandragem, a picaretagem e a bandalheira, e ignoram (quando não reprimem) as legitimas reinvindicações dos que servem à máquina oficial nessa e em outras áreas do conhecimento. 

Sai governo, entra governo. Uma audiência hoje, outra amanhã, e ouvem-se sempre as mesmas promessas e intenções de mudar alguma coisa. Só que, na prática, as soluções não andam, nem sequer acompanham, ainda que à distância, a evolução dos problemas, enquanto proliferam as mazelas sociais.

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