A grande lição materna - Por Simon O. dos Santos

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Estudávamos na Escola Casimiro de Abreu, esplendidamente pintada de verde com tons de azul. Ou o contrário? Impossível afirmar, minha memória não anda lá muito boa das pernas, embora faça uso diário de ácidos graxos encontrados em peixes de águas profundas.
 
Seja mais objetivo caro escriba! Diga apenas, Ômega 3 e todos entenderão, sem delongas. 
 
Mas, voltemos ao “verde com tons de azul”. Acredito que a escola era mesmo pintada de azul, partindo do princípio que na infância tudo nos parece azul e cristalino! 
 
Era um verde ou azul brilhantes como a coloração dos calangos (Bico-Doce), que passeavam despreocupadamente embaixo do assoalho da escola.
 
Nós os observávamos por entre as brechas do assoalho, enquanto tentávamos imitar a caligrafia do professor Neto, magistralmente desenhada no quadro negro, que também era verde, embora mais escuro e opaco que os calangos e a própria escola. 
 
Após o intervalo, a professora Princesa (Maria Rodrigues da Silva) assumia a turma. Antes, espantávamos os calangos e sentávamos embaixo do assoalho da escola e comíamos a farofa de ovo com farinha d’água que nossa mãe preparava e colocava em uma lata de leite Mococa. 
 
Ainda sinto o cheiro da banha de porco quando abríamos a lata com a farofa ainda morna.
 
Os demais colegas, também com suas latas, sentavam-se ao nosso lado e formávamos uma grande confraria cujo princípio sagrado era:  “divida a farofa”, principalmente, com os que não dispunham de tal iguaria. 
 
Era a multiplicação da farofa!
 
Certo dia, meu irmão cometeu uma indisciplina. A professora Princesa escreveu um bilhete para minha mãe e pediu-me que   lhe entregasse.
No retorno para nossa casa, eu e meu irmão resolvemos rasgar o bilhete e dar o assunto por encerrado.
 
Dias depois, mãe e professora se encontram. A senhora recebeu um bilhete que lhe enviei?
 
Minha mãe, um pouco surpresa, respondeu que não, e quis logo saber do que se tratava.
 
Bom!  Meus leitores e leitoras do Berço do Madeira e da Pérola do Mamoré, fica por conta de vocês imaginar a tempestade que caiu sobre nós, crianças que viam o mundo azul da cor do mar.
 
Creiam! A tempestade foi maior sobre mim, do que sobre meu irmão que cometera a indisciplina.  
 
Apanhei! Meus diletos leitores e minha diletas leitoras, apanhei muito e com razão. 
 
Eu prevariquei! Minha mãe não prevaricou...
 
Foi um dos maiores gestos de amor e de cuidado dela. A sua grande lição...
 
Simon O. dos Santos – Cronista.
Direito ao esquecimento

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