Momento Lítero Cultural - Por Selmo Vasconcellos

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REYNALDO VALINHO ALVAREZ – Rio de Janeiro, RJ (Em Memória – 1931 - 2021)

ENTREVISTA HISTÓRICA nº 001 - 25 de JANEIRO de 2009.


Reynaldo Valinho Alvarez (RJ, 1931) publicou 38 livros de poesia, ficção, ensaio e literatura infanto-juvenil. Participou de numerosas antologias. Está traduzido para o sueco, o italiano, o francês, o espanhol, o galego, o persa, o corso e o macedônio. Ganhou muitos prêmios literários, no Brasil e no exterior, entre eles o Jabuti de poesia com o livro “Galope do tempo”, da Câmara Brasileira do Livro, em 1998, o Golfinho de Ouro, do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, pelo conjunto da obra, em 2002, e o Camaiore Internacional de Poesia, na Itália, em 1999 com o livro “O sol nas entranhas”, prêmio Status de Poesia Brasileira 1979, traduzido para o italiano com o título de “Il sole nelle viscere” . Foi premiado em Portugal com o romance “Roteiro solidão”. Obteve outros prêmios de instituições como a Academia Brasileira de Letras, a União Brasileira de Escritores, o Instituto Nacional do Livro, a Fundação Biblioteca Nacional, a Fundação Cultural do Distrito Federal, o Departamento de Cultura do Estado da Guanabara, a Coordenadoria de Cultura do Estado de Minas Gerais, a Petrobrás e o Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul, a Academia Pernambucana de Letras, a Rede Milton Reis de Comunicação e a Academia Mineira de Letras. Colaborou na imprensa e manteve colunas literárias no Jornal de Letras e na Última Hora. Fez parte do júri de concursos literários de âmbito nacional e representou a poesia brasileira em festivais na Suécia, na Macedônia, no Canadá e na Espanha. Pertence aos quadros do Pen Club do Brasil, da Academia Carioca de Letras, do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, da Academia Guanabarina de Letras e do Instituto Sanmartiniano de Cultura.Incluído nas principais enciclopédias e antologias da literatura brasileira contemporânea, reúne vasta fortuna crítica. Colaborou em diversos jornais e revistas no exterior (revista Agália, Espanha, e Colóquio Letras, Portugal).
Sua poesia vai do verso livre às mais rigorosas formas estróficas, métricas e rímicas, por ele recriadas e renovadas, em contínua experimentação, com apoio na paronomásia, na aliteração, na assonância, no enjambement, bem como em alusões intertextuais, associadas à paráfrase e à paródia. De acento ao mesmo tempo grave, envolvente, dramático, reflexivo e oral, esses poemas, com suas vozes, imagens e metáforas, têm profundo conteúdo humano e questionam o percurso existencial, em seu duplo mergulho na introspecção e na realidade concreta.

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever?
REYNALDO VALINHO ALVAREZ - Formei-me em Letras Clássicas, Direito, Economia e Administração. Fui funcionário público e professor; redator, planificador e diretor de agências de publicidade; Secretário de Aplicações Tecnológicas do MEC, diretor do Centro Brasileiro do Projeto Multinacional de Tecnologia Educativa da Organização dos Estados Americanos, representante do MEC no Conselho Nacional de Comunicações e na Comissão Brasileira de Atividades Especiais; Chefe de Assessoria de Comunicação de uma estatal; assessor e chefe da coordenadoria de comunicação da Memória da Eletricidade; colunista e colaborador de jornais e revistas, entre eles o Jornal de Letras e a Última Hora, além de cronista de rádio e redator de documentários cinematográficos, para resumir a resposta.

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?
REYNALDO VALINHO ALVAREZ - Meu interesse pela literatura começou na escola primária, ocasião em que escrevi meus primeiros contos, cresceu nos antigos cursos ginasial e colegial, quando passei a fazer poesia, ampliou-se no curso de Letras e não me deixou mais.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País?
REYNALDO VALINHO ALVAREZ - São 38 livros publicados e participação em mais de 30 coletâneas de poesia, ensaio e ficção, com outros escritores e de 5 festivais de poesia realizados na Suécia, na República da Macedônia, no Canadá ( Québec ) e na Espanha ( Las Palmas de Gran Canária ).
Uma antologia de seus poemas foi lançada na Suécia (Staden skriker 1997) e outra no Québec (Le temps et la pierre 2000.

SELMO VASCONCELLOS - Qual a atmosfera propicia aos seus impactos literários?
REYNALDO VALINHO ALVAREZ - Falo das sensações, das emoções e dos sentimentos humanos, seus amores, seus ódios, seus desejos, seus medos, da neurose urbana, da guerra, da paz, da vida, da morte, do destino trágico do homem. Prefiro escrever em meu lar, no silêncio e longe do tumulto, mas já tenho escrito sob pressão e nas piores condições.

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?
REYNALDO VALINHO ALVAREZ - Atingi uma idade em que me preocupo mais em melhorar a qualidade do que pretendo deixar como legado literário do que me engajar no culto das personalidades literárias. Na infância, na adolescência e na juventude, cultivei grandes admirações, cada uma ao seu tempo e hoje fastidiosas de enunciar, por terem sido tão ardentes quanto numerosas. Tudo isso faz parte de minha formação e aprendizagem no duro caminho das letras.

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
REYNALDO VALINHO ALVAREZ - Não tenho a pretensão de ensinar a ninguém o famoso "caminho das pedras". Cada um tem de encontrar sua direção e aprender como realizar seu destino e concretizar suas esperanças. Não existem receitas. O que serve para um pode ser um veneno para outros. O que se pode dizer, em termos muito genéricos, é que o estudo, a cultura, o rigor e a disciplina ajudam bastante, mas também não são tudo.

para Selmo Vasconcellos

Prezado Selmo, faço este poema
na costumeira forma de um soneto,
para falar do solidário tema
com que me entendo, abraço e comprometo.

Não se trata de um simples teorema,
pois com a geometria não me meto,
mas do fraterno e afetuoso lema
que me inspira a seguir, em um terceto.

O tema e o lema são os da amizade,
flor que se abre no árido deserto
e desafia o tempo e a tempestade.

Não importa a distância. Longe ou perto,
o amigo está presente e sempre há de
ser uma luz da paz no rumo incerto.
***
Canto em si e outros cantos - Canto raso

10

Afinal, onde a mesa ficou posta,
onde as telhas quebradas e as paredes
infiltradas de chuva e maresia,
os odores diversos que habitavam
os ares conhecidos, a penumbra
em que a aranha tecia sua sombra,
os ruídos exatos e previstos,
as tosses sufocantes sufocadas,
as horas de chegar e de sair,
os lanches, os almoços, os jantares,
as roupas estragadas pelas traças,
as manchas de café, os velhos quadros,
a muda despedida dos que foram
e as vozes que chamavam para o afago?

 

Foto/legenda: Selmo Vasconcellos e Reynaldo Valinho Alvarez na Bienal do Livro no Rio de Janeiro em 2007.

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