Momento Lítero Cultural - Por Selmo Vasconcellos

 

 

PAULO REIS – Nova Friburgo , RJ – ENTREVISTA HISTÓRICA

14 de JULHO de 2010.

Paulo Reis nasceu em 06 de julho de 1964, em São José do Ribeirão, Bom Jardim - RJ; é casado e tem um filho. Viveu parte de sua infância na roça, onde seu pai era lavrador. Devido a dificuldades financeiras, abandonou a escola na 5ª série do Ensino Fundamental para trabalhar quebrando pedras (paralelepípedos). Retomou os estudos já na idade adulta, incentivado por sua namorada, atualmente, esposa, Rosemary, quando se mudou para Nova Friburgo - RJ, em 1985, cidade onde reside até hoje. Formou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia, mas desempenha função burocrática em empresa de transporte coletivo.
Em 2003, sua poesia Friburgo foi recitada na abertura do desfile cívico-militar em comemoração aos 185 anos da cidade. A Câmara Municipal lhe concedeu, por unanimidade, Voto de Congratulações; e em 2007, participou como poeta convidado da revista Academia, edição comemorativa dos 60 anos da Academia Friburguense de Letras. Seus versos também estão inscritos no Memorial do Professor, inaugurado em 2008, na Praça do Suspiro, nesta cidade. Tem poemas publicados em coletâneas, e-book, jornais e websites.

SELMO VASCONCELLOS – Quais as suas outras atividades, além de escrever?
PAULO REIS – Minha atividade profissional formal sempre foi em empresas de transporte coletivo. Atualmente, exerço a função de Assistente Técnico, na área de manutenção, e, eventualmente, atuo como free lance em rodas de leitura e similares.

SELMO VASCONCELLOS – Como surgiu seu interesse literário?
PAULO REIS – Meu interesse literário surgiu durante o Ensino Médio, no Colégio Dr. Feliciano Costa, em Nova Friburgo - RJ, em 2002; e a motivadora foi a Professora Ana Lúcia Farias da Silva. Em uma determinada aula, ela pediu para que a turma escrevesse uma estrofe com características barrocas sobre uma gravura de Fernando Gonsales, na qual uma vaquinha redonda observa um globo terrestre menor que ela. Fiz os seguintes versos: Sinto-me maior que você / envaidecida pela sua plenitude / seus vastos campos verdes / garantem a minha existência. Depois, os intitulei de Lição (fala da vaquinha). Ana Lúcia gostou da quadrinha, o que me motivou a compartilhar outros poemas com ela e a continuar escrevendo. Foi então que resolvi cursar Letras, o que me propiciou um aprofundamento literário por meio dos excelentes professores que tive.

SELMO VASCONCELLOS – Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País?
PAULO REIS – Ainda não possuo um livro solo publicado. Participei das coletâneas Livre Pensador, da Scortecci Editora, 1825 dias de Poesia, organizada pelo Grupo Poesia Simplesmente e editado pela Urbana Arte & Comunicação, ambas em 2004; do Projeto Redação 2004, da Folha Dirigida, do Projeto Turístico, Histórico e Geográfico: retratando o Brasil através da poesia (e-book), organizado pela Rosimeire Leal da Motta e editado pela AVBL, em 2004; da revista Academia, edição comemorativa dos 60 anos da Academia Friburguense de Letras, em 2007, e do Memorial do Professor, monumento inaugurado na Praça do Suspiro, em Nova Friburgo, em 2008. Tenho também poemas publicados em sites e em jornais.

SELMO VASCONCELLOS – Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(a) capaz(es) de produzir poesia?
PAULO REIS – Escrevo poesia sobre o que me toca; é como escrevi em Poeta operário: Com os órgãos do sentido, / capta a matéria-prima. / Depois de processá-la, / organiza em embalagens visuais / a arte do seu ofício. Percebo, porém, que a temática social predomina em meus poemas.

SELMO VASCONCELLOS – Quais os escritores que você admira?
PAULO REIS – O universo literário é muito rico. Admiro vários escritores, mas, além da admiração, tenho um carinho por Mano Melo, porque ele acompanha minha poesia desde o balbucio. Foi por intermédio dele que conheci o Luiz Fernando Prôa e o Nicolas Behr, por exemplo. Mano sempre foi muito atencioso e receptivo comigo.

SELMO VASCONCELLOS – Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
PAULO REIS – Sugiro que eles não se esmoreçam diante das adversidades, que busquem seu espaço. O poeta dá a cara à tapa, como disse uma professora minha. Ele dialoga com o mundo por meio de seus poemas. Se a pessoa escreve e guarda na gaveta, tem poucas chances de ser (re)conhecido. É preciso aprender a conviver com as críticas e se aprimorar escrevendo poesia. A qualidade do poema é fruto do exercício e do conhecimento do poeta. A sensibilidade e o profissionalismo do professor também podem contribuir para a formação de novos escritores, como foi o meu caso. Um dia, um livreiro me falou que detestava literatura devido a uma experiência frustrante que teve com seu professor. Algum tempo depois, fechou a livraria.

BRASIL

Brasil
Rico com os pés descalços
Rosto marcado sem maquiagem
Sorriso desdentado
Agrícola de barriga vazia
Sujo com grandes mananciais
Berço da corrupção
Hábitat da impunidade
De famílias sem teto
Da habilidade
Que faz emergir da escuridão grandes estrelas
Da liberdade sem asas
Gigante dominado
De gente grande com pequenos ideais
De braços abertos
Mas não acolhe com dignidade os seus filhos
Miserável com conta na Suíça
Miscigenado com preconceito
Do povo que canta, mas não tem voz
Dos analfabetos de tantas culturas
Dos poderosos sem lei
Que comemora com festas o sofrimento
Que deixa morrer o seu futuro
Que é surpreendido enquanto dorme
Que sonha acordado
Um dia vê-lo orgulhar.
*****
PROPÓSITO

Tenho em mente
o horizonte.
Porque sinto
a necessidade de prosseguir...
Ultrapassar as fronteiras
que delimitam a liberdade,
que abortam os sonhos,
deixando opaco o brilho
dos olhos da humanidade.

Navego nas ondas da vida.
Uso como instrumento a poesia,
para desenhar em versos
as curvas do meu coração.
Guio-me pela minha
bússola interior,
na esperança de encontrar
o meu destino.
*****
BUSCA

Não sou
nenhum ourives
ou artesão de palavras.
Mas vivo
a garimpar,
nas rochas da existência,
a joia
da minha mina.
*****
ENIGMA

Moro dentro
de mim,
numa rua
sem saída;
e nela
habita também
a esperança
e o fim
da vida.
*****
ESTAÇÃO DO AMOR

Pele sobre pele
repele o inverno.
Abrigo-me na estação do seu corpo,
é verão o ano inteiro.
Saboreio vinhos,
queijos e fondues.
Entre carícias e suspiros,
nossos corpos se incendeiam,
derreto-me de amor;
e esse amor só esfria
quando o sol aparece
para roubar-me
a sua energia.
*****
FANTASIA

Meu pensamento cego
a vadiar procura
a noite escura
desse seu olhar...
Beber veneno
em sua carne impura
morrer de amor
e me purificar.
*****
JOANINHA

Joaninha, joaninha
para que tantas pintinhas?
Será que é para se mostrar
na passarela das folhinhas?

Como são bonitas
as cores das suas pintas!
Também quero me pintar
você pode dizer quem pinta?
*****
O HOMEM E A TERRA

Forneces-me o alimento
Devolvo-te o excremento
Cuspo e te piso
Corto tuas veias
E bebo o teu sangue
Arranco teus membros
Visto-te com roupas impermeáveis,
Impedindo que te banhes e respires.

Mas suportas calada!
Porque sabes que um dia
Render-me-ei a teus pés,
Vestindo o que te arranquei,
Para que me engulas.
Então, serei pó
E como pó,
Sentirei o que sentes!
*****
POEMA COM GOSTO DE SANGUE

Os fogos
de sacrifício
invadem
entranhas.
É noite
de sem joão.
O céu
fica todo apagado...
E a cidade,
cega,
surda,
muda,
acompanha.

 

 

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