Por Selmo Vasconcellos
Foto: Divulgação
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COLUNA MOMENTO LÍTERO CULTURAL
ENTREVISTA HISTÓRICA
PEDRO BANDEIRA - O escritor que exala a cultura e o amor pelo Brasil, em 6 de JULHO de 1997. 1ª Feira Internacional do Livro em Recife, PE, 3 a 8 de julho de 1997.
(JOSÉ AILTON FERREIRA “BAHIA” & SELMO VASCONCELLOS)
BAHIA/SELMO - Quem é e o que faz PEDRO BANDEIRA fora do labor literário?
PEDRO BANDEIRA – Nasci em Santos, e moro em São Paulo desde 1961. Sou um “ex-muita coisa”, tendo, ao longo da vida, trilhado e abandonado vários ramais da estrada das artes e das comunicações. Com uma jamais posta em prática formação em “Ciências Sociais”, fui ator, cenógrafo, e diretor de teatro, trabalhei com fantoches e com mágicas, fui publicitário e, principalmente, editor e jornalista. Aos quarenta anos, abandonei o jornalismo e, desde então, dedico-me totalmente à literatura juvenil e infantil, estendendo-me desde a criação de histórias até as conferências para professores sobre o uso da literatura em sala de aula. Minha vida jamais se afasta do fazer e do pensar literário; fora dele, mês passatempos são ainda a leitura e a pesquisa.
Nasci em 9 de março de 1942, casado com Lia e pai de três filhos: Rodrigo, Marcelo e Maurício
SELMO/BAHIA – O que é produzir literatura num país onde o analfabetismo pare coisa consolidada?
PEDRO BANDEIRA – Recentemente, uma pesquisa feita em todos os países da Europa recenseando a capacidade de ler e entender textos, localizou a França como o penúltimo deles: 60% dos franceses são analfabetos funcionais, incapazes de ler e compreender pequenos textos. Assim, nossa posição nunca deve ser considerada desesperadora. Quem produz arte, sabe que está se comunicando sempre com uma minoria, ajudando-a, por outros meios, multiplicar o conhecimento, traduzindo-o de diferentes modos para a grande maioria que não tem e dificilmente terá condições de consumir arte de ponta. No entanto, no caso de autores como eu, falar para crianças e para jovens tem um sabor totalmente diferente: procuro alimentar a planta ainda em botão, na esperança de ajudá-la a crescer melhor. Minha profissão é a esperança, não o desespero.
BAHIA/SELMO – Que milagre deve ser feito para que tenhamos realmente um povo leitor a partir do ano 2000?
PEDRO BANDEIRA – O mundo não vai acabar no ano 2000. Não projetemos nada para o futuro. Façamos hoje. O acúmulo de todos os bem intencionados manterá a locomotiva em movimento, sempre para a frente. No Brasil, hoje, lê-se muito mais do que em qualquer outro momento da nossa história. Publica-se como nunca, vendem-se livros como nunca. Os jovens leem muito mais do que leram seus pais ou seus avós. Estamos avançando, minha gente!
SELMO/BAHIA – Eventos como a Feira Internacional do Livro ocorrida no começo de julho, em Olinda, resolve em parte a carência que o Brasil tem no campo da literatura?
PEDRO BANDEIRA – Nada em si, resolve coisa alguma. Cada esforço significa mais um tijolo na parede cultural que todos queremos erguer. Creio que deveríamos espraiar esses esforços por todo o Brasil. Roma não foi feita num dia.
BAHIA/SELMO –m Uma mensagem de otimismo para os leitores de Rondônia?
PEDRO BANDEIRA – Amem sua terra. Façam aí o trabalho que o povo americano fez no século passado alongando as fronteiras de sua civilização. Espero estar vivo para ver Rondônia considerada pelo mundo como a Califórnia do Brasil.
SELMO/BAHIA – Quantas obras publicadas?
PEDRO BANDEIRA – Até o final do ano, serão 46 livros, mais quinze contos em coletâneas e uma coleção de didáticos de português para o primário, além de peças de teatro.
BAHIA/SELMO – Quem no momento, no cenário da literatura infanto juvenil no Brasil vem se destacando?
PEDRO BANDEIRA – São tantos, tão bons, tão profundos, tão amantes da juventude brasileira, que atualmente nossa literatura, para as crianças e para jovens, é sem dúvida a melhor do mundo. Isto não é bairrismo: é verdade. Não há, em qualquer parte do mundo, uma literatura jovem como a nossa. Nomes? Fiquem com Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Marcos Rey, Luis Galdino, Aurélio de Oliveira, Márcia Kupstas, Giselda Laporta Nicolelis, apenas como entrada. Além destes, o leitor vai encontrar pelo menos mais cinquenta de primeiríssima linha.
SELM/BAHIA – Segundo dados recente, o Brasil é um país que possui menos bibliotecas que a cidade de Buenos Aires, na Argentina. Como corrigir essa triste anomalia?
PEDRO BANDEIRA – Estamos caminhando. Talvez tenhamos saído depois dos outros e por isso encontramo-nos no final da fila. Mas estamos caminhando a passos largos. Depende de todos nós acelerar esse processo: principalmente de vocês, jornalistas, que têm a condição de pressionar autoridade, de dar visibilidade às boas iniciativas. Na França que, ainda assim, vem sofrendo grande recuo em sua capacidade de leitura, há até creches-bibliotecas, para uso de crianças de zero a quatro anos. Eles estão lutando para reverter o triste quadro localizado pela pesquisa que citei acima. Nós também estamos. Xô, desânimo!
BAHIA/SELMO – A mídia, principalmente a televisão, é uma entrave ou um canal aberto à difusão da literatura no País?
PEDRO BANDEIRA – A televisão é um canal aberto para a difusão da própria televisão. Nenhum meio tem a ver diretamente com o outro. Mas nossa televisão, fazendo-se um balanço honesto, apresenta muita coisa boa. Em si, é e pode continuar sendo um meio de difusão de conhecimento, de cultura, de alertas. Como tal, a televisão ajuda a cultura enormemente. Imaginem um estado como Rondônia antes do advento da televisão... Hoje, através da tevê, podemos saber o que se passa em todo o mundo. No entanto, como um veículo de massas, a televisão passa em todo o mundo. No entanto, como um veiculo de massas , a televisão apresenta produtos prontos, acabados, que pouca margem dão à imaginação do telespectador. Outras artes, como a Literatura e a Música, são muito mais provocativas da sensibilidade de quem as consome. Em um livro não está tudo, como na tevê. Estão sugestões , provocações para fazer o leitor pensar, julgar e completar com sua imaginação, com seus demônios, com sua ética, com suas revoltas, com sua esperança, tudo aquilo que o texto apenas sugere. Lemos, somos também autores, criadores de cultura. E é isso o que desejo para meus conterrâneos: uma participação atuante em sua própria cultura. Nossa cultura, assim como nosso País, é feita por nós mesmos! Mãos à obra!
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!