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ARTUR DA TÁVOLA – BRASÍLIA, DF – 29 de DEZEMBRO de 1995.
(Em memória)
Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros “Artur da Távola”, nasceu em 3 de janeiro de 1936, Rio de Janeiro, RJ. Formado em Direito pela PUC, RJ.
Escritor, poeta, cronista, memorialista e Senador eleito pelo Rio de Janeiro.
Távola, durante muito tempo encantou leitores de todo o Brasil com sua mensagens, seja em jornais, seja em livros publicados.
SELMO – Qual o verdadeiro ofício de Artur da Távola?
ARTUR DA TÁVOLA – Sou um cronista. Como cronista e memorialista estou entre aqueles que não merecem ou recebem a consideração da crítica literária e das elites. Mas em compensação, exatamente por cronista e memorialista recebo algo melhor que é a leitura, a participação, a força de vivências com os leitores. Sou um escritor sem maior importância do ponto de vista da arte literária, mas uma pessoa que exerce o ofício com integridade.
SELMO – Quando começou a escrever?
ARTUR DA TÁVOLA – Escrevo desde os 12 anos e só publiquei meu primeiro livro aos 41 anos, o que mostra a longa trajetória, a dificuldade de publicar livros no Brasil e a militância de 14 livros publicados e 3 no prelo. Sou um artesão, um oficiante das palavras.
SELMO – Essa demora na publicação mostra as dificuldades de ser um escritor no Brasil. Quais foram as suas dificuldades?
ARTUR DA TÁVOLA – No meu caso, a excessiva ansiedade com que o primeiro livro é feito, escrito e esperado pelo próprio autor. O primeiro trabalho ainda é portador de todos os nossos fantasmas. Somos de certa forma vitimas dele e não senhores do mesmo. Mas a pessoa tem que insistir, não se intimidar com as possíveis derrotas.
SELMO – A política e a cultura são forças antagônicas?
ARTUR DA TÁVOLA – Não, elas se potencializam. Há um elemento sinérgico que opera entre elas apesar da aparente incompatibilidade de ambas.
SELMO – Como está o Brasil culturalmente?
ARTUR DA TÁVOLA – O mesmo de sempre. Ativo, produzindo em grande quantidade, diversificado, riquíssimo do ponto de vista da variação e sem a correspondente repercussão nas áreas de rádio e da televisão e também nas atividades estatais.
SELMO – Direitos Autorais funcionam no Brasil?
ARTUR DA TÁVOLA – No campo literário sim. O que falta é mercado.
SELMO – Como é o processo de sua criação literária?
ARTUR DA TÁVOLA – Estou permanentemente ligado na criação literária e mesmo no meio de afazeres opostos ou antagônicos encontro meios de anotar ideias em pedaços ou fatias de tempo nas quais vou tecendo minha pequena criação. Sinto-me assim como aqueles fazedores de colchas com retalhos.
SELMO – Os intelectuais não estão calados demais?
ARTUR DA TÁVOLA – Acho que os intelectuais calam de menos.
SELMO – O povo brasileiro não está se sentindo órfão?
ARTUR DA TÁVOLA – É uma resposta difícil. Quando um povo se sente órfão é porque precisa de um pai, ainda está criança. Um povo que se torna adulto não se sente órfão porque ele é pai. O Brasil está nessa transição.
SELMO – Que balanço você faria hoje dos seus trabalhos anteriores?
ARTUR DA TÁVOLA – Um balanço generoso. Vou fazer 18 anos de autor publicado, alguns livros meus até hoje têm edições sucessivas, alguns deles têm uma durabilidade maior do que eu esperava e nunca fui um sucesso literário. Sempre tive uma vendagem razoável e sou desconhecido por parte da crítica e das elites universitárias como escritor. O leitor médio me tem apreço, porém.
SELMO – O que espera para 1996?
ARTUR DA TÁVOLA – Continuar. Continuar é sempre mais difícil e mais importante. É preferível saber continuar que pensar em termos delirantes ou onipotentes. O bom é melhor do que ótimo.
*Quem ganha o logo perde o sempre.
*A vida é substantiva, nós é que somos adjetivos.
*A vida é múltipla e múltiplas são as formas de interpretá-la.
*experiência não se doa nem se oferta. Pouco adianta.
*Todas as vidas que temos dentro não cabem em todo o tempo de nossa vida.
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