A gente ou nós - por Marcos Lock

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A expressão “a gente” é usada todo santo dia pelos usuários da Língua Portuguesa. Aqui no Brasil ela tornou-se sinônima de “nós”, o pronome pessoal do caso reto, plural da primeira pessoa, “eu”. A palavra “gente” sozinha é um substantivo comum, gênero feminino e, ao exercer essa função na frase acompanhada do “a”, indica sempre uma ideia de um grupo de pessoas. O que isso quer dizer? Significa que a expressão “a gente” e o pronome “nós” são sinônimos. 
 
Veja um exemplo: “Nós fomos ao cinema.”; “A gente foi ao cinema.”
 
O que mudou de uma oração para outra? O pronome nós deve adotar o verbo no plural, enquanto a locução “a gente” deverá vir acompanhada do verbo no singular, apesar de carregar um sentido coletivo.
 
Muitos estudiosos consideram a forma “a gente” incorreta ou deselegante. Mas a verdade, caros leitores, é que boa parte das pessoas prefere esta expressão por ser mais simples e coloquial. Já sabemos que os falantes são os verdadeiros donos da língua; por isso ela vai se consagrando dia a dia, até porque consta há muito tempo de todos os dicionários. 
 
“A gente” aparece muito também em poemas, crônicas e, sobretudo, em canções. A expressão só é evitada em textos formais como um relatório, um artigo técnico ou científico. Chico Buarque de Hollanda, um dos maiores compositores da música popular brasileira, empregou a locução em sua célebre canção “Roda Viva”. Veja:
 
“Tem dias que a gente (nós) se sente
Como quem partiu ou morreu.
A gente (nós) estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu.
A gente (nós) quer ter voz ativa,
No nosso destino mandar.
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá.”
 
Até mesmo o imortal Machado de Assis, famoso pelo fino trato com as palavras, rendeu-se à forma coloquial, tudo em nome da expressividade. Os trechos a seguir foram extraídos de “Dom Casmurro”:
 
"A alma da gente, como sabes, é uma casa assim disposta, não raro com janelas para todos os lados, muita luz e ar puro. Também as há fechadas e escuras, sem janelas ou com poucas e gradeadas, à semelhança de conventos e prisões. Outrossim, capelas e bazares, simples alpendres ou paços suntuosos.” (...) "A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre, por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente."
 
O USO SEM O ARTIGO “A” Sozinha, no entanto, a palavra “gente” adquire outros significados interessantes no cotidiano de nosso idioma. Observe os exemplos abaixo:
 
Pessoa da classe alta ou de boa índole: “Gente de bem.”
Pessoa que merece crédito: “Acredite, é tudo gente boa”; “Pode confiar porque ele é gente nossa.”
Pessoa responsável: “Ele tem atitude de gente grande.”
Pessoa que fala em nome de si mesma e de outro: “Quem não tem berço, a gente vê logo de cara.” 
Adulto responsável: “Ela conversa como gente grande.”; “Finalmente ele virou gente.”
Pessoa que se faz respeitar: “O prefeito teve uma atitude de gente.”
Pessoa digna: “Francamente, isso não é comportamento de gente.”
O gênero humano: “Algum dia a gente que habita este planeta viverá em paz.”
Quantidade de partidários de uma ideia ou de uma causa política: “Quase toda a gente da oposição vai votar contra este projeto.”
Grupo de conterrâneos ou de pessoas da mesma família: “Estou com muita saudade da nossa gente.” 
 
Até a próxima coluna, caros leitores!
 
 
(*) Marcos Lock é jornalista profissional e professor de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Rondônia (Unir)
 
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DÚVIDAS E SUGESTÕES PARA ESTA COLUNA DEVEM SER ENVIADAS PARA O WHATSAPP (69) 9.9328-1521, AOS CUIDADOS DO PROFESSOR MARCOS LOCK
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