As embelecidas águas da fronteira Brasil – Bolívia promove uma fascinação deslumbrante ao ser do ente humano. Ornada de flores, elas seguem formidavelmente correndo na sua briosa e colossal liberdade fronteiriça. As suas correntes imensuráveis são impolutamente contempladas pelas generosas famílias beiradeiras que as protegem dos malefícios horripilantes das agressões externas.
Os lares ribeirinhos são os verdadeiros guardiães da mata e dos rios. São os virtuosos vigilantes que sem ódio e sem mácula cuidam de maneira complacente da natureza esplendora e da mãe terra em estesia. Cada tapiri fincado às margens do rio é como se fosse uma bandeira nacional hasteada, sinalizando a honra fiel e soberana da democracia internacional. Cada casebre de palha com assoalho de paxiúba, além de ser uma tradicional marca humana e cultural do lugar, é também um relevante “radar” de alerta contra os pacotes nebulosos das desgraças oriundas de organizações criminosas.
A inexistência de um multilateralismo diplomático, inclusivo e protetor das populações ribeirinhas nas áreas de fronteira, faz com que essas coletividades amazônicas sejam cruelmente arrebatadas do lugar. Desterradas da terra mátria, essas famílias sofrem com o descalabro e aversão, e são de forma insolente, condenadas ao degredo trabalhista da semiescravidão do latifúndio da grilagem hostil e aterrorizante da terra.
O despovoamento ribeirinho contribui nocivamente para a decadência de relações diplomáticas que promova a segurança e a inclusão dessas populações que sobrevivem à revelia dos países vizinhos que desconhecem e desvalorizam os valores ontológicos da existência humana dos povos amazônicos. Banalizando os marginalizados fronteiriços, os chefes de Estado continuam marchando na lentidão de uma geopolítica caduca e estereotipada, visivelmente responsável pelo desregrado distanciamento entre as mazelas estatais e os modos de vida dessas populações.
Enfim, sem a volúpia da casa ribeirinha, o rio perdeu seus filhos, perdeu a companhia de seus autênticos guardiães e perdeu o olhar inefável de suas coletividades. Agora, as veias abertas do rio, não são mais cortadas pelo amor das embarcações ribeirinhas, agora, elas são envenenadas pela estranheza delinquente de travessias delituosas e por raras viagens que passam sobre as águas do ilícito.