A Amazônia de luto na república brasileira – por Marquelino Santana

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Em belicoso estado de invisibilidade social, as coletividades originárias e tradicionais da Amazônia brasileira ainda sofrem com o infortúnio e desregramento do poder público vigente. A liberdade transcendental é condenada a sobreviver numa espécie de cadafalso estatal, onde a infelicidade da alma brota obsoleta e desenfreada como que implorando a libertar-se do calvário ou calabouço, que de forma coercitiva, cerceia o direito sócio-político-cultural de suas populações. 
 
Os povos da floresta não alcançaram o berço da florestania, não conquistaram o ecoequilíbrio tão desejado, e mesmo com toda a vivacidade de suas obstinadas forças, não conseguiram – pelo menos ainda – a efetivação justa e legal de seus imaculados direitos constitucionais expressos de forma clarividente no bojo da nossa carta magna. Nessa vida proibida de ser vivida, o ser amazônico continua sendo desalojado da própria alma, e continua presenciando a delinquente e delituosa morte do seu autêntico lugar. 
 
O dadivoso e exuberante mundo amazônico escalou os degraus do império das cinzas, foi acometida pela defraudação ardil e degradante da consciência humana, e foi posta em derrocada pelo descalabro e desdém de uma forma de governo que significa coisa pública, mas que infelizmente continua desferindo ociosidade e negligência em desfavor de suas comunidades amazônicas. Diante desse desnorteado canal de estereótipos republicanos, faz-se necessário a adoção de novos paradigmas que atentem para o bem-estar social dos povos da floresta, e que ao mesmo tempo estanque a sangria dessa ardilosa e insolente devassidão moral. 
 
Para o pesquisador Erik Chiconelli: “A proclamação da república nos convida a refletir sobre os desafios atuais da democracia brasileira. Questões como desigualdade social, representatividade política e participação cidadã, continuam a demandar atenção e ação. A persistência de desigualdades econômicas e sociais, que remontam ao início da república (...) permanece como um dos principais obstáculos à realização plena dos ideais republicanos e democráticos” em nosso país. 
 
A empáfia enclausurada da mentira ardilosa, a desterritorialização enrijecida dos povos tradicionais, os engodos enigmáticos da política pública, os escárnios esdrúxulos do esfacelamento identitário nacional, a espoliação estapafúrdia do trabalho escravo vigente, e a estúrdia exacerbada do ódio profundo são retratos hostilizantes de uma Amazônia de luto na república brasileira. 
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