O beiradeiro da estrada – por Marquelino Santana

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Visivelmente abatido, um velho camponês senta à beira do rio Abunawaká e procura meditar sobre a dor que persegue a sua vida. Apenas um pedaço de terra seria o suficiente para equilibrar a balança suplicante da fome da família. Mas o esmaecido lar procura resistir através do alimento que a mata oferece e com o pouco que consegue arrancar do que foi plantado na terra.

A truculência recrudescida do latifúndio impõe toda a sua força com o seu reacionário espírito belicoso que de forma abusiva e autoritária, desconhece profundamente os valores axiológicos da miserabilidade da vida e os valores ontológicos da existência impoluta do ser. O camponês sabia do iminente perigo que rodeava a sua família, diante do icástico e evidente ensejo ameaçador que assoberbava o seu lugar de pânico, terror e medo.

Mas ele também sabia que era preciso resistir de forma obstinada, e que era preciso cultivar o seu chão, para dele obter o sagrado pão de cada dia. Também tinha consciência do aviltamento opróbrio das agressões externas que de maneira pugnaz violentava a sua imaculada alma. Era a morte anunciada pela insaciável sede do capital que desterrava e eliminava qualquer ato de pertinácia e resistência dos pobres da terra.

O poder da insolência e da perniciosidade falou mais alto. O pobre camponês do rio Abunawaká avistou ao longe uma extensa nuvem de fumaça que escurecia de forma macabra o céu lindo e azul. Desesperado ele correu apressadamente com destino ao seu velho casebre de palha com assoalho de paxiúba, mas no local do sagrado lar ele encontrou um lugar inóspito e execrado pelo fogo. Por entre as cinzas, algumas chamas horripilantes queimavam delituosamente dois cadáveres abraçados ao chão causticante: a esposa e uma filha.

O velho camponês ajoelhou-se agonizando e tombou diante do martírio da exacerbada dor que o condenou eternamente a uma grave crise psicótica, um agudo transtorno mental que o fez perder a conexão com a realidade e a perda existencial da noção de espaço e tempo. Condenado ao malogro, a mendacidade e a marginalização social excludente, o velho camponês transformou-se num peregrino que ficou lamentavelmente conhecido como o beiradeiro da estrada.

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