PODER: Em Rondônia, política e religião também se misturam

Em um dos estados mais evangélicos do país, ter representantes no Poder Legislativo já é rotina; Mas o apoio deles também é importante

PODER: Em Rondônia, política e religião também se misturam

Foto: Divulgação

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Já diz o velho ditado: política e religião não se discutem. Mas, na prática, o que mais se vê de uns anos pra cá, são os ânimos mais exaltados quando o candidato representa uma igreja ou uma congregação/denominação divulga o apoio a determinado candidato ou candidata.
 
Em um dos estados mais evangélicos do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde 33,8% da população declara esta fé, a discussão ganha ainda mais força e importância.
 
Tanto que o atual governador Marcos Rocha (União Brasil) e a esposa, Luana Rocha, que também é secretária estadual de Assistência Social, se declaram evangélicos e fazem diversas postagens nas redes sociais mostrando a rotina de cultos e orações.
 
História
 
A relação entre religião e política, está presente no Brasil desde que a Igreja Católica chegou nestas terras com os colonizadores portugueses. Há muitos séculos, essa união faz parte do dia a dia da sociedade.
 
Um ponto destacado, e que alguns chamam de bênção de Deus sobre os evangélicos, diz respeito ao aumento da presença de cristãos na política, estimulada pelas alianças do governo Bolsonaro com lideranças deste segmento. 
 
Este processo tem resultado em cargos no Poder Executivo (como secretarias e ministérios), composições com o Poder Legislativo, fortalecimento de ocupações (e promessas de outras) do Poder Judiciário (STJ e STF, por exemplo) e interferência em políticas e ações públicas.
 
Presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de oração com missionário R.R. Soares.
 
De fato, é preciso afirmar que há uma força evangélica na política. Não é surpresa que candidatos e profissionais de marketing tenham detectado há algum tempo a tendência e, a cada eleição, seja frequente a prática de “pedir a bênção” a líderes evangélicos, seja da parte da direita seja da esquerda.
 
São recorrentes as pressões sobre candidatos e seus partidos a assumirem compromissos com a defesa de pautas da moralidade religiosa. O objetivo é conquistar corações e mentes de fiéis.
 
A cada dia, também aumenta ainda mais a presença e bem intensa de grupos religiosos atuando como ativistas políticos nos mais diversos movimentos e nas mídias sociais. 
 
 
Futuro
 
Por isso, o Rondoniaovivo procurou lideranças religiosas de vários segmentos como evangélicos, católicos, umbandistas e espíritas. 
 
Dos nove pastores evangélicos procurados pela reportagem, dois responderam quem iriam apoiar ou não para presidente ou Governo do Estado. 
 
Dois disseram que estavam de férias, um que não tinha interesse em participar da matéria e quatro chegaram a visualizar as mensagens enviadas por WhatsApp, porém ficaram em silêncio.
 
Um dos primeiros a se manifestar foi o pastor e ex-candidato a vice-prefeito de Porto Velho, Josinélio Muniz. Ele será novamente candidato nas eleições de 2022 e tem um nome preferido para a Presidência da República.
 
“O partido Brasil 35, que faço parte, me convidou para ser pré-candidato ao Senado devido à representatividade cristã. Estou analisando, até porquê reconheço que o segmento precisa de um candidato autêntico e conservador. Em relação a candidato ao Governo, estou aguardando o fechamento das proposituras e possíveis candidatos. Porém, para presidente da República, não há dúvida que mantenho firme o apoio a Bolsonaro, assim como foi na campanha que disputei como vice-prefeito”, disse ele.
 
Quem também já esteve presente na política muitas vezes como candidato é o pastor e professor universitário, Aluízio Vidal. Neste ano, ele revelou ao Rondoniaovivo que não será candidato, nem sabe quem vai apoiar.
 
“Não sou candidato. Percebi que não tenho o perfil que a política exige e a sociedade gosta. Também estou sem candidato e assumindo uma postura mais pastoral de diminuir conflitos e aumentar a consciência social na comunidade em que sirvo como pastor”.
 
Na campanha de 2018, Ciro Gomes (PDT) chegou a postar nas redes sociais que a Constituição e a Bíblia Sagrada podem ser livros que se complementam.
 
Vidal ainda espera que a campanha tenha menos brigas e ataques públicos, para o bem do eleitor. 
 
“Espero que a eleição esse ano revele uma democracia mais madura, uma população menos beligerante e uma campanha em que as notícias falsas não assumam papel fundamental. Espero propostas comprometidas com ética, meio ambiente e inclusão de quem é menos oportunizado, com promoção da educação e saúde pública e com economia de recuperação”.
 
Outros segmentos
 
O Rondoniaovivo também procurou a Arquidiocese de Porto Velho, para saber o que o representante maior da entidade, Dom Roque Paloschi, pensa para as eleições de 2022.
 
“A Igreja não está aqui para dizer que votem em determinado partido ou candidato. Mas é parte da missão da Igreja realizar leituras da realidade à luz do Evangelho e da doutrina social da Igreja. Boas escolhas significam melhores resultados nos serviços públicos. E esse compromisso individual traz consequências coletivas, pois somos todos corresponsáveis pela realidade política a partir do exercício de nosso voto”, pontuou ele.
 
Para Dom Roque, é importante que a sociedade pense bastante se o político tem o compromisso de trabalhar pela população. 
 
“A Igreja entende a política como um serviço de caridade, a arte de promover o bem comum, arraigada na vida do povo, que cultiva e promove a fraternidade. Essa é a política com ‘Política com letra maiúscula’, como ensina o Papa Francisco. É essa política que acreditamos e promovemos. É impossível separar a promoção da justiça social, do reconhecimento dos valores e da cultura do povo, incluindo os valores espirituais. Uma política que ignora os pobres nunca poderá promover o bem comum”.
 
Uma instituição que afirma que não tem ligação com a política é a Federação dos Cultos Afros Religiosos, Umbanda e Ameríndios de Rondônia (Fecauber).
 
“Somos apartidários e não apoiamos ninguém. Pessoalmente, eu falo quem vou apoiar. Não temos votos de cabresto. Lá tem gente que apoia vários candidatos individualmente. Falamos de política como um todo. De políticas de governo, de programas de Estado”, afirmou Silvestre Antônio, tesoureiro da Fecauber.
 
Além de alguns pastores evangélicos, representantes da Federação Espírita de Rondônia e da União do Vegetal não responderam nosso convite para participar desta reportagem.
 
 
Dados
 
Um levantamento publicado em setembro de 2020, véspera das eleições para prefeitos e vereadores, a partir dos registros de candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), identificou pelo menos 5.555 candidatos que usam alguma referência religiosa no nome de urna (pastor, padre, mãe) ou que ou que registraram “sacerdote ou membro de ordem ou seita religiosa” como ocupação.
 
Eram quase 2% dos 283.316 das pessoas que tiveram candidaturas registradas naquele ano: 69 candidatos às prefeituras de cidades em todas as regiões do país e 11.481 concorrentes ao cargo de vereador.
 
Entre estes nomes de candidatos com identificação religiosa, 82% eram pastor/pastora e irmão/irmã. Vale indicar que estes números não incluíam postulantes a cargos municipais que são líderes religiosos reconhecidos, mas não usam esta identidade no registro eleitoral, como foi o caso do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.
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